quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Romantismo - Romance urbano

     O primeiro livro romântico popular descreve personagens urbanos do Rio de Janeiro

     Joaquim Manuel de Macedo foi o primeiro autor de prosa romântica a alcançar popularidade. Seu estilo coloquial e divertido agradou ao novo público constituído de jovens senhoras e estudantes. Seu primeiro romance, A Moreninha, pertence ao gênero do romance urbano.
     O escritor, formado em Medicina no Rio de Janeiro, ambientou A Moreninha na Corte carioca. Os quatro personagens principais são estudantes de Medicina que vivem em uma república. Filipe aposta que Augusto, namorador, irá se apaixonar por uma das jovens presentes na ilha onde o grupo passa o fim de semana. Leopoldo e Fabrício são testemunhas da aposta. Augusto se apaixona pela inteligente e voluntariosa Carolina, conhecida como a Moreninha, e perde a aposta.
     Os enredos de Macedo foram muitas vezes condenados por apresentar excessiva frivolidade. Por outro lado, foi reconhecida a inovação do autor no uso de uma linguagem coloquial e irônica. Não se discute, no entanto, o fato de que a função de suas obras era entreter o público. O mundo é visto por lentes cor de rosa, que disfarçam os conflitos humanos mais complexos e profundos e separam perfeitamente o mal do bem, que sempre triunfa.

     Do ideal ao artificial
     Muitos seguidores do movimento literário exageraram na dose

     O mundo idealizado dos autores românticos deu origem a uma linguagem esteriotipada, que pode ser percebida nos romances de Joaquim Manuel de Macedo e nos outros autores da época. Um deles é Bernardo Guimarães, criador de A Escrava Isaura. Confira um trecho do famoso romance:
     " - Pobre Isaura! - disse Álvaro com voz comovida, estendendo os braços à cativa. - Chega-te a mim... Eu protestei no fundo de minha alma e por minha honra desafrontar-te do jugo opressor e aviltante, que te esmagava, porque via em ti a pureza de um anjo, e a nobre e altiva resignação da mártir. Foi uma missão santa, que julgo ter recebido do céu, e que hoje vejo coroada do mais feliz e completo resultado.
      Deus enfim, por minhas mãos vinga a inocência e a virtude oprimida, e esmaga o algoz.
      - Deixe-se de blasonar, senhor! - gritou Leôncio agitando-se em gesticulações de furor: - isto não passa
de uma infâmia, uma traião, e ladroeira...
     - Isaura! - continuou Álvaro com voz sempre firme e grave: - se esse algoz ainda há pouco tinha em suas mãos a tua liberdade e a tua vida, e não tas cedia senão com a condição de desposares um ente disforme e desprezível, agora tens nas tuas a sua propriedade; sim, que as tenho nas minhas, e as passo para as tuas. Isaura, tu és hoje a senhora, e ele o escravo; se não quiser mendigar o pão, há de recorrer à nossa generosidade.
     - Senhor! - exclamou Isaura correndo a lançar-se aos pés de Álvaro; - oh quanto sois bom e generoso para com esta infeliz escrava!... mas em nome dessa mesma generosidade, de joelhos eu vos peço, perdão! perdão para eles...
(Bernardo Guimarães, A Escrava Isaura)
     Autor de várias faces
     José de Alencar explorou todas as possibilidades do romantismo

     Os romances urbanos também estão bem representados por José de Alencar, que descreveu a sociedade carioca. Embora mantivesse uma imagem idealizada desse contexto, ele abordou conflitos sobre a posição social, dinheiro e amor. Destaca-se o romance Senhora, que trata do conflito entre o amor e o dinheiro. A protagonista, Aurélia, é um dos tipos mais marcantes da obra do escritor. Outros romances urbanos de Alencar são Lucíola, Cinco Minutos, A Pata da Gazela, A Viuvinha e Diva.
     Outra vertente explorada por Alencar, além do indianismo já citado, é a dos romances históricos. Um exemplo é a Guerra dos Mascates, sobre o confronto entre brasileiros e europeus em Pernambuco.
     Buscando dar forma a uma identidade nacional pela descrição das características do vasto território brasileiro, o escritor também criou romances regionalistas. O Gaúcho tem como cenário os pampas, enquanto O Sertanejo se passa nas terras inóspitas do Nordeste, À maneira do que ocorre com seus romances indianistas, Alencar idealiza os heróis nessas obras, aproximando-os de cavaleiros medievais honrados e virtuosos.

     A Moreninha
    Joaquim Manuel de Macedo

                                                                             1
                                                                Aposta Imprudente
                                                                            (...)
     - O que quiserem... Serei incorrigível, romântico ou velhaco, não digo o que sinto, não sinto o que digo, ou mesmo digo o que não sinto; sou infim, mau e perigoso, e vocês inocentes e anjinhos. Todavia, eu a ninguém escondo os sentimentos que ainda há pouco mostrei: em toda a parte confesso que sou volúvel, inconstante e incapaz de amar três dias um mesmo objeto; verdade seja que nada há mais fácil do que me ouvirem um "eu vos amo", mas também a nenhuma pedi ainda que me desse fé; pelo contrário, digo a todas o como sou; e se, apesar de tal, sua vaidade é tanta que se suponham inesquecíveis, a culpa, certo que não é minha. Eis o que faço. E vós, meus caros amigos, que blasonais de firmeza de rochedo, que jurais amor eterno cem vezes por ano a cem diversas belezas... sois tanto ou ainda mais inconstantes que eu!... Mas entre nós há sempre uma grande diferença; vós enganais e eu desengano; eu digo a verdade e vós, meus senhores, mentis...
     - Está romântico!... Está romântico!... exclamaram os três, rindo às gargalhadas.
                                                                           (...)
     Augusto escreveu primeira, segunda e terceira vez o termo aposta, mas depois de longa e vigorosa discussão, em que qualquer dos quatro falou duas vezes sobre a matéria, uma para responder e dez ou doze pela ordem; depois de se oferecerem quinze emendas e vinte artigos aditivos, caiu tudo por grande maioria, e entre bravos, apoiados e aplausos, foi aprovado, salva a redação, o seguinte termo:
     "No dia 20 de julho de 18... na sala parlamentar da casa n... da rua de... sendo testemunhas os estudantes Fabrício e Leopoldo, acordaram Filipe e Augusto, também estudantes, que, se até o dia 20 de agosto do corrente ano o segundo acordante tiver amado a uma só mulher durante quinze dias ou mais, será obrigado a escrever um romance em que tal acontecimento confesse; e, no caso contrário, igual pena sofrerá o primeiro acordante. Sala parlamentar, 20 de julho de 18... Salva a redação."
     Como testemunhas: Fabrício e Leopoldo.
     Acordantes: Filipe e Augusto.
     E eram oito horas da noite quando se levantou a sessão.
                                                                          (...)
(Joaquim Manuel de Macedo, A Moreninha)

     Atividade

01.Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas do texto a seguir, na ordem em que aparecem.
O primeiro romance brasileiro foi O Filho do Pescador, de Teixeira e Sousa. Foi, entretanto,.............. o responsável pelo surgimento do verdadeiro romance brasileiro, com................ . Ao fixar os costumes da sociedade carioca do seu tempo, atendendo às expectativas burguesas, este autor adquou o romance romântico.....................aos cenários............... e às normas patriarcais.
a) Joaquim Manuel de Macedo - O Moço Loiro - brasileiro - urbanos.
b) José de Alencar - Lucíola - europeu - locais.
c) Visconde de Taunay - Inocência - brasileiro - rurais.
d) Joaquim Manuel de Macedo - A Moreninha - europeu - locais.
e) José de Alencar - Senhora - europeu - urbanos.

02."Sociedade, no meio da qual me eduquei, fez de mim um homem à sua feição. Habituei-me a considerar a riqueza como a primeira força viva da existência e os exemplos ensinavam-me que o casamento era meio tão legítimo de adquiri-la, como a herança e qualquer honesta especulação."

No enredo de Senhora, tal como se depreende do trecho transcrito, há uma aproximação entre o casamento e
a) recomendações divulgadas pela igreja.
b) normas impostas aos escravos.
c) costumes copiados dos indígenas.
d) leis do tempo da colônia.
e) práticas da organização social burguesa.

                                                                              FIM
    

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