segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Realismo - no Brasil

     Dois autores dão início ao movimento no país

     O início do período realista da literatura brasileira é marcado por duas obras importantes, ambas publicadas em 1881: O Mulato, de Aluísio Azevedo, Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
     O fim do século 19 foi marcado por grandes transformações no Brasil. A monarquia entrou em decadência, foi aprovada a Lei Áurea, que aboliu a escravatura, e a economia - principalmente o café - voltou-se para o mercado externo. À maneira do que ocorria na Europa, desenvolveu-se um espírito crítico em relação à  sociedade burguesa e à Igreja Católica. As ciências e as artes foram influenciadas diretamente pelo realismo europeu. Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis cria um narrador que resolve contar sua vida depois de morto. A inovação do método narrativo e o sarcasmo com que a obra expôs os privilégios da elite da época mudaram o panorama da literatura brasileira.
     O livro aborda as experiências de um filho abastado da elite brasileira do século 19, Brás Cubas. Começa por sua morte, descreve a cena do enterro, até retornar à infância. A narração é feita em primeira pessoa: o narrador se autointitula um defunto-autor. Sem pertencer mais ao mundo terreno, ele consegue ficar além de nosso julgamento e, assim, contar suas memórias da forma como melhor lhe convém.
     A infância de Brás Cubas, como a de todo membro da sociedade patriarcal brasileira da época, é cheia de caprichos patrocinados pelos pais. Na escola, Brás era amigo da traquinagem de Quincas Borba, que aparecerá no futuro defendendo o "humanismo", misto da teoria darwinista com o borbismo: "Aos vencedores, as batatas", ou seja, só os mais fortes e aptos podem sobreviver (é comum interpretar-se o Humanismo como caricatura do positivismo.O mais importante, contudo, é perceber a tendência de Memórias Póstumas de expor o entusiasmo burguês com os avanços científicos e filosóficos às suas próprias fragilidades).
     Depois de uma decepção amorosa e estudos frustantes em Portugal, Brás Cubas segue sua existência parasitária. Enamora-se de Virgília, parente de um ministro da corte, aconselhado pelo pai, que via no casamento com ela um futuro político. No entanto, ela se casa com Lobo Neves, que arrebata do protagonista não apenas a noiva, como também a candidatura a deputado que o pai preparava.
     A obra termina, nas palavras do narrador, com um capítulo só de negativas. Brás Cubas não se casa; não consegue concluir o emplastro, medicamento que imaginara criar para finalmente dar um objetivo à vida vazia e conquistar a glória na sociedade; torna-se deputado, mas seu desempenho é medíocre; e não tem filhos.
     A força da obra está justameente nessas não realizações. Os leitores ficam sempre à espera do desenlace que a narrativa parece prometer. Ao fim, o que permanece é o vazio da existência do protagonista. A obra de Machado é dividida em duas fases - a primeira romântica e a segunda, realista. Memórias Póstumas, Dom Casmurro e Quincas Borba são seus romances mais comentados. Mas várias outras obras são célebres, entre elas o conto O Alienista.
     Dom Casmurro é o apelido do narrador, que conta seu passado, incluindo o romance atormentado com Capitu. Em Quincas Borba, a personagem que dá nome ao livro - a mesma que conviveu com outro personagem machadiano, Brás Cubas - morre e deixa sua fortuna a seu enfermeiro, Rubião, que se torna esbanjador e enlouquece.

     Vida no internato
     O "naturalismo subjetivo" de Raul Pompeia

     Outro grande representante do realismo/naturalismo, Raul Pompeia escreveu uma obra que não se limita a seguir os preceitos desse movimento literário: O Ateneu.
     O livro narra os dois anos em que Sérgio, o protagonista, vive no internato chamado Ateneu. De acordo com os preceitos do romance naturalista, depreende-se em O Ateneu uma crítica feroz às instituições de ensino das elites do século 19. O colégio é visto como um microcosmo da sociedade. Para isso, o narrador utiliza descrições de toda ordem, físicas ou psicológicas, levadas a cabo co rigor e riqueza de detalhes quase científicos.
     Há, porém, um aspecto que deixa a leitura mais complexa. A estética naturalista concebe um narrador como observador de fora, tal um cientista que se isola do mundo que examina. Em O Ateneu, há um narrador-protagonista - um adulto que relembra a época no internato. O foco em primeira pessoa faz com que a compreensão sobre o que é o Ateneu se estruture por meio das impressões subjetivas do personagem principal.

     Memórias Póstumas de Brás Cubas
     Machado de Assis

     Capítulo 27 - Virgília?

     Virgília? Mas então era a mesma senhora que alguns anos depois...? A mesma; era justamente a senhora, que em 1869 devia assistir aos meus últimos dias, e que antes, muito antes, teve larga parte nas minhas íntimas sensações. Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; e era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saída das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.

     Capítulo 160 - Das Negativas

     Entre a morte do Quincas Borba e a minha, mediaram os sucessos narrados na primeira parte do livro. O principal deles foi a invenção do emplasto Brás Cubas, que morreu comigo, por causa da moléstia que apanhei. Divino emplasto, tu me darias o primeiro lugar entre os homens (...). O caso determinou o contrário; e aí vos ficais eternamente hipocondríacos.
     Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade e que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. (...) Somadas umas coisas e outras,, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e consequintemente que sai quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas - Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.
(Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas)

Atividades:

01."Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para que a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo."
A condição na qual anteriormente se apresenta o narrador das Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, permitiu-lhe:
a) isentar-se de qualquer compromisso com a realidade objetiva, permanecendo no plano do imaginário e do fantástico.
b) manter um frio julgamento de sua própria história, dispensando as marcas subjetivas da ironia e do humor.
c) reconstruir caprichosamente a totalidade da própria história,com humor crítico e discreta melancolia.
d) pairar acima das fraquezas humanas, analisando-as com rigor ético e severidade moral.
e) satirizar as tendências românticas e espiritualistas da época, submetendo-as a uma visão cientificista da História.

02.O texto é de uma crônica de Machado de Assis: "Um dia começou a guerra do Paraguai e durou cinco anos. João repicava e dobrava, dobrava e repicava pelos mortos e pelas vitórias. Quando se decretou o ventre livre dos escravos, João é que repicou. Quando se fez a abolição completa, quem repicou foi Hoão. Um dia proclamou-se a república. João repicou por ela, repicara pelo Império, se o Império retornasse."(Machado de Assis, Crônica sobre a Morte do Escravo João, 1897.)
Estão corretas:
a) por ser escravo tocava os sinos, às escondidas, quando ocorriam fatos ligados à Abolição.
b) não poderia tocar os sinos pelo retorno do imperio, visto que era escreva.
c) tocou os sinos pela República, proclamada pelos abolicionistas que vieram libertá-lo.
d) tocava os sinos quando ocorriam fatos marcantes porque era costume fazê-lo.
e) tocou os sinos pelo retorno do Império, comemorando a volta da Princesa Isabel.

                                                                 FIM
    

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