quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Modernismo - Geração de 45: João Cabral

     Morte e Vida Severina
     João cabral de Melo

"Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as msmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.

E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida)."

     O texto acima integra a obra mais conhecida do poeta João Cabral de Melo Neto (1920-1999), o grande nome da poesia modernista da Geração de 45.
     Morte e Vida Severina é um auto, no caso, um auto de Natal, peça de origem medieval e popular. Revela, em sua estrutura, duas características centrais da obra do autor: o rigor formal e o engajamento social. O rigor se estabelece com a métrica, a rima e o ritmo marcados do poema. Cabral será conhecido, também, pelo signo da pedra, da objetividade, de busca da palavra justa, do texto conciso, avesso a sentimentalismo (na imagem, a adaptação para o cinema, de 1977, com direção de Zelito Viana e atuação de José Dumont, Stênio Garcia, Tânia Alves e Elba Ramalho).
     O sentimento de injustiça do mundo, como em Carlos Drummond de Andrade, manifesta-se no poeta pernanbucano na denúncia da vida sofrida do sertanejo pobre. O poeta acompanha a saga de Severino, personagem-símbolo e síntese de toda uma população marginalizada e famélica, no caminho até a cidade.
     Severino encontrará cenas de miséria pelo caminho, mas terminará sua trajetória diante de um nascimento. Como uma ponta de esperança na justiça da vida, soberana.

     Ode ao mestre
     João Cabral de Mello Neto desmitificou a poesia como fruto do "sentimento"
     POR Suzana Paquete

     João Cabral foi o último grande poeta brasileiro deste século. O único que lhe fez sombra foi Carlos Drummond de Andrade. No panorama internacional, sua grandeza é também inegável. Só não foi reconhecido por causa da marginalidade em que vive a língua portuguesa. João Cabral costumava dizer que não tinha biografia, ou que esta se limitava às mudanças de endereço no cargo de diplomata que exerceu em boa parte da vida. Mas é claro que há muito mais em sua história. Há as curiosidades, como um passado de futebolista ou uma enxaqueca que durou cinquenta anos. Ou a vida amorosa, que passou por dois casamentos. Ou as amizades com nomes importantes da arte brasileira e estrangeira, caso do pintor espanhol Joan Miró.
     Talvez se possa dividir seu legado em três partes. Primeiro, ele desmitificou a poesia como fruto da inspiração e do "sentimento". Ele fez versos secos,severamente controlados em seus efeitos. O segundo legado de Cabral está na poesia de cunho social, que reflete sobre o Brasil. A dureza em sua poesia não era apenas questão de gosto. Parecia-lhe a única maneira de retratar o cenário inóspito do Nordeste brasileiro, um de seus temas fundamentais. Há também algo de denúncia nesses textos.
     O terceiro aspecto importante do legado de João Cabral é sua preocupação em fazer uma poesia "participativa", que busca a comunicação com o público. João Cabral (ao lado talvez de Vinícius de Moraes) foi um dos poucos poetas brasileiros a se preocupar com isso. Daí ter aproximado o verso da narrativa. Ou ter recuperado formas populares, em Auto do Frade e, é claro, em Morte e Vida Severina, seu texto mais conhecido, musicado no palco por Chico Buarque de Holanda e utilizado até pela TV.

Atividade:

01.É correto afirmar que no poema Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto,
a) Severino é um exemplo típico de herói moderno.
b) a cena inicial e a final apontam: na volta à terra de origem, o retirante terá a fé que aprendeu com o mestre carpina.
c) o destino que as ciganas preveem para o recém-nascido é o mesmo que Severino já cumprira ao longo de sua vida.
d) o poeta buscou exprimir a vida nordestina no estilo dos autos medievais, valendo-se da retórica que os caracterizavam.
e) o "auto de natal" se define não num sentido religioso, mas como reconhecimento da força renovadora da natureza.

02."Pelo sertão não se tem como não se viver sempre enlutado
Lá o luto não é no vestir
é de nascer com o luto nato"
(João Cabral de Melo Neto)

"Vou me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do Rei
Lá tenho a mulher que quero
na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada"
(Manuel Bandeira)

Quais das afirmações combinam com as passagens acima?
1.O primeiro poema caracteriza-se pelo racionalismo e pelo rigor formal, o que não impede a denúncia social.
2.No segundo poema, a evasão do real se dá em linguagem coloquial, aproximada da prosa.
3.Os autores são pernanbucanos. O primeiro é de Geração de 45, e o segundo, da Primeira fase do Modernismo.
Está(ao) correta(s):
a) 1, 2 e 3.
b) 1 apenas.
c) 2 apenas.
d) 3 apenas.
e) 1 e 2 apenas.

                                                                            FIM

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Modernismo - Geração de 45: Clarice Lispector

     Metalinguagem e psicologia
     Com Clarice Lispector, o exame psicológico das personagens é levado ao limite

     Clarice Lispector (1920-1977) é uma das principais renovadoras da linguagem literária brasileira, preocupação essencial de sua geração modernista, de 45. A autora radicaliza a herança do exame psicologico das personagens, característica marcante de abras da geração anterior do Modernismo, como no romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos.
     Clarice explorará o recurso do discurso indireto livre, aquele que incorpora a fala da personagem à do narrador, aproximando o leitor dos pensamentos da personagem, e inda introduzirá uma inovação no Brasil.
     O fluxo de consciência, isto é, o registro muitas vezes vertiginoso do pensamento da personagem, sem demarcações claras de passado ou presente, de realidade ou desejo, é marca de toda a produção literária da escritora, desde sua estreia, muito jovem, aos 17 anos, com o romance Perto do Coração Selvagem(1944).
     recurso que consogrou, no exterior, escritores como o irlandês James Joyce, o fluxo de consciência, que remete à escrita automática dos surrealistas, permite o aprofundamento da sondagem psicológica, levando o leitor a um mergulho radical, existencial e intimista na alma das personagens. O instrumento de "entrar" na mente da personagem e reltar automaticamente seu pensamento tem o efeito de produzir rupturas na narrativa, quebras na concepção espaço-tempo.
     Em Clarice, importa menos o laço da tradição literária que o encontro de novos nexos e sentidos, numa outra concepção de narrativa. O  tempo íntimo, particular, tem prevalência sobre o tempo histórico, social.
     Em a Hora da Estrela, romance de 1977, mais uma característica marcante da obra de Clarice se destaca: a metalinguagem, quer dixer, a linguagem que trata da própria linguagem, criticamente, fazendo dela assunto artístico. O narrador se alonga, no início do livro, numa autocrítica radical de sua posição, elevada, em relação à da personagem, a humildade datilógrafa Macabéa, nordestina que migrou para o Rio de Janeiro. De que modo contar essa história? De que perspectiva? Com que tom? Com que tom? Com que palavras?, questiona o narrador.
     A autora também ficou conhecida pela predominância da epifania em suas narrativas. Em termos literais, epifania significa "manifestação religiosa," "aparição divina", mas, em literatura, é momento de fundo êxtase, de descoberta e revelação. A epifania de Clarice é o ponto de virada na vida da personagem, o momento crucial marcado por uma transformação profunda e irrevogável.
     A Clarice cabe ainda outra novidade: é apontada como a inauguradora da voz genuinamente feminina na literatura, exatamente por seu modo de contar e sensibilidade peculiar.

     A Hora da Estrela
     Clarice Lispector

     "(...) Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos - sou eu que escrevo o que estou escrevendo. Deus é o mundo. A verdade é sempre um contato interior e inexplicável. A minha vida a mais verdadeira é irreconhecível, extremamente interior e não tem uma só palavra que a signifique. Meu coração se esvaziou de todo desejo e reduz-se ao próprio último ou primeiro pulsar. A dor de dentes que perpassa esta história deu uma fisgada funda em plena boca nossa. Então eu canto alto agudo uma melodia sincopada e estridente - é a minha própria dor, eu que carrego o mundo e há falta de felicidade. Felicidade?
     Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes.
     Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual - há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão de iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que justificaria o começo - como a morte parece dizer sobre a vida - porque preciso registrar os fatos antecedentes.
                                                                        (...)
     Como é que sei tudo o que vai se seguir e que ainda o desconheço, já que nunca o vivi? É que numa rua do Rio de Janeiro peguei no ar de relance o sentimento de perdição no rosto de uma moça nordestina. Sem falar que eu em menino me criei no Nordeste. Também sei das coisas por estar vivendo. Quem vive sabe, mesmo sem saber que sabe.

Atividade:

01.Identifique a afirmação correta sobre A Hora da Estrela, de Clarice Lispector:
a) A força da temática social, centrada na miséria brasileira, afasta do livro as preocupações com a linguagem.
b) Se o discurso do narrador critica a literatura, as falas de Macabéa exprimem suas críticas às injustiças sociais.
c) O narrador retarda bastante o início da narração da história de Macabéa, vinculando esse adiamento a um autoquestionamento radical.
d) Os sofrimentos da migrante nordestina são realçados pelo contraste entre suas desventuras na cidade e suas lembranças de uma infância pobre, mas vivida no aconchego familiar.

02."Domingo ela acordava mais cedo para ficar mais tempo sem fazer nada. O pior momento de sua vida era nesse dia ao fim da tarde: caía em meditação inquieta, o vazio do seco domingo. Suspirava. Tinha saudade de quando era pequena - farofa seca - e pensava que era feliz. Na verdade por pior a infância é sempre encantada, que susto." (Clarice Lispector, A Hora da Estrela)

Todos os comentários abaixo se referem à produção literária de Clarice Lispector, exceto:
a) A linguagem contém como que uma armadilha: a sua simplicidade enganosa. Nem pela escolha dos vocábulos, nem por sua construção frásica parece ultrapassar um tom de coloquialismo e de narração sem surpresas.
b) É essa existência absurda, ameaçadora e estranha, revelando-se nos indivíduos e a despeito deles, o único fundo permanente de encontro ao qual as personagens se destacam e de onde tiram a densidade humana que as caracteriza.
c) Em sua ficção, o cotidiano é, a partir de certo momento, completamente desagregado.
d) Numa obra literária, para que o jogo da linguagem tenha a propriedade reveladora, é necessário que a linguagem, além de ser instrumento da ficção, seja também, de certo modo, o seu objeto, como de fato ocorre nos textos da autora.
e) O mito poético foi a solução romanesca da autora. Uma obra de tão aguda modernidade que, paradoxalmente, se nutre de velhas tradições, as mesmas que davam à gesta dos cavaleiros feudais a aura do convívio com o sagrado e o demoníaco.

                                                                           FIM

Modernismo - Geração de 45: Guimarães

     A renovação pela linguagem
     A terceira fase do Modernismo é marcada pelo contato com a cultura popular

     A Geração de 45 do Modernismo brasileiro, a da terceira fase do movimento, representa a continuidade dos ideias da primeira e segunda geração, a de 22 e a de 30, mas com uma particularidade: a pesquisa estética obsessiva. A cultura popular, expressão da sabedoria acumulada longe das carteiras da escola, continua, entre os novos modernistas, com seu status irrevogável, com toda a razão.
     É do encontro da cultura formal, de intelectuais generosos, com essa cultura intuitiva  e espontânea que continuariam a nascer grandes marcos da literatura brasileira, como Grande Sertão: Veredas (1956), de João Guimarães Rosa, e Morte e Vida Severina (1955), de João Cabral de Melo Neto, só para citar duas obras-primas da Geração de 45.
     Os novos autores se beneficiam do contexto histórico favorável, marcado, no Brasil, pelo discurso desenvolvimentista do pós-Segunda Guerra Mundial. Diminui, a partir de 1945, a necessidade do escritor de abordar literariamente as questões sociais e políticas do país. A Geração de 45 poderá enfatizar a pesquisa de novas formas de expressão artística.
     O mineiro João Guimarães Rosa (1908-1967) será um dos expoentes do período, juntamente com Clarice Lispecttor (1920-1977) e João Cabral de Melo Neto (1920-1999). Em obras como Sagarana (contos, 1946, sua estreia literária) e Grande Sertão: Veredas (seu único romance), Guimarães Rosa traz a novidade: o modo de falar do sertanejo se consolida na narrativa não só no aproveitamento de seu vocabulário, mas também de sua sintaxe e de seu ponto de vista.
     Em Grande Sertão: Veredas, por exemplo, a história é narrada em primeira pessoa pelo sertanejo Riobaldo, o protagonista, para um interlocutor que nunca se manifesta, a quem chama ora de "senhor" ora de "moço". O conhecimento de  que Rosa acumulava do falar peculiar da gente dos sertões de Minas Gerais, nascido de suas viagens como médico, assegura a verossimilhança desse jagunço-pensador.
     Riobaldo, em sus narrativa memorialista, busca entender o significado de sua vida, do seu amor proibido por Reinaldo, um jagunço do bando, de quem, apenas no final, se saberá Diadorim, uma mulher. Diadorim se fizera passar por homem para entrar no bando e vingar a morte do pai.
     O sertanejo Rosa é um igual. Nos medos, o maior de Riobaldo é do Diabo, com quem teme ter feito um pacto. Essa dualidade de bem e mal percorre a saga sertaneja, sertão adentro. E o leitos vai junto, porque desconfia, com razão, de que o sertão está é aqui, mesmo, dentreo de nós.
     João Guimarães Rosa também entrou para a história de literatura brasileira do século 20 pela renovação vocabular que iniciou. Fez isso ao atualizar termos que já não se usavam mais, muito antigos, e também ao combinar novas palavras a fim de criar outras repletas de significados, numa prática chamada de neologismo.

     Fase do entusiasmo
     A geração do pós-guerra produz sob o estímulo do novo momento mundial

     Em 1945, a Segunda Guerra Mundial, iniciada em 1939, encerra-se, com a queda do nazifascismo. Embora outro período histórico conturbado se inicie, com a polarização de forças entre Estados Unidos e União Soviética, o Brasil engrenará, com entisiasmo.
     Getúlio Vargas deixa a presidência em 1945, após 15 anos no poder, oito de suspensão de direitos mínimos do cidadão, que levou ao encarceramento de opositores e intelectuais independentes, como Graciliano Ramos. É da prisão, aliás, que o escritos escreveria Memórias do Cárcere, que registra acontecimentos do Estado Novo.
     O país entra numa fase de estabilidade, com crescimento acelerado da economia. A euforia encontra o seu auge durante a Presidência de Juscelino Kubitschek (1956-1961) e seu discurso desenvolvimentista. O mote adotado por Juscelino se tornaria célebre: 50 anos em 5. É hora de abrir estradas e colocar para rodar os automóveis produzidos aqui, pela primeira vez. É tempo de levantar o caneco inédito no futebol (o Brasil conquistaria sua primeira Copa do Mundo em 1958, na Suécia), de erguer a nova capital, Brasília (inaugurada em 1960) e de bossa nova, o ritmo que simboliza o novo Brasil.

Atividade:

01."Moço: Toda saudade é uma espécie de velhice".
"Amar é reconhecer-se incompleto."
"Viver é muito perigoso".
(Guimarães Rosa)

As frases acima são de autoria do escritor João Guimarães Rosa. Sobre esse autor, não podemos afirmar que:
a) fez parte da geração de 45, cujo diferencial foi a expansão do regionalismo, um regionalismo universal e cósmico.
b) em suas narrativas, retrata e recria o sertão das Gerais e toda gente que lá vive: matutos, vaqueiros, crianças, velhos, feitiçeiros e loucos. Faz isso sem priorizar questões regionais.
c) como se vê nas frases acima, a sua linguagem incorpora o falar coloquial dos sertanejos, com o uso de aforismos.
d) não conseguiu atingir o objetivo de renovação da linguagem literária, tendo sua obra um caráter passadista e pouco inovador.
e) no conjunto de sua obra, destacam-se Sagarana, seu livro de estreia, Corpo de Baile, Tutameia e um único romance, considerado sua obra-prima, Grande Sertão: Veredas.

02.Leia o trecho abaixo, todos  extraídos do romance Grande Sertão: Veredas, escrito por João Guimarães Rosa e ambientado no Sertão de Minas Gerais.
1. "O que vale, são outras coisas. A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não misturam."
2. "Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego. (...) Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser - se viu -; e com máscara de cachorro."
3. "O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: [...] Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; é onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade."
4. "Eu queria decifrar as coisas qu são importantes. E estou contando não é uma vida de sertanejo, seja se for jagunço, mas a matéria vertente. Queria entender do medo e da coragem, e da gã que empurra a gente para fazer tantos atos, dar corpo ao suceder."
5. "[...] sempre que se começa a ter amor a alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na ideia, querendo e ajudando; mas, quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de quer, e é um só facear com as surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota é depois."

Associe adequadamente as seis afirmações formuladas abaixo sobre o romance de João guimarães Rosa com os cinco fragmentos de sua obra que foram transcritos imediatamente acima.
(     ) Sob o forte impacto do seu amor por Diadorim, Riobaldo procura entender a diferença desse amor imposto pelo destino.
(     ) O narrador busca definições exemplares do sertão, espaço que não se pode dimensionar.
(     ) Trata-se das palavras iniciais do romance, que já dão sinais da existência de um interlocutor presente.
(     ) Riobaldo ultrapassa a condição de homem da sua região, narrando o seu desejo de compreender os sentimentos e as forças que movem a vida humana.
(     ) trata-se de uma reflexão sobre a memória dos episódios vividos pelos seres humanos.
(     ) O diabo, que Riobaldo vai enfrentar na cena do pascto, pode assumir várias formas, como as de animais.

Agora aponte a sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo.
a) 3-2-5-4-1-3.
b) 5-3-2-4-1-2.
c) 4-2-3-1-5-4.
d) 5-3-4-2-2-1.
e) 4-1-3-1-5-2.

                                                                            FIM

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Modernismo - Geração de 45: Guimarães Rosa

Grande Sertão: Veredas
Guimarães Rosa

TEXTO 1
Contar é muito dificultoso. Não pelos anos que já se passaram. Mas pela astúcia que têm certas coisas passadas de fazer balancê, de se remexerem dos lugares. A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos; uns com outros acho que nem se misturam (...) Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo coisas de rasa importância. Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras de recente data. Todas saudade é uma espécie de velhice. Talvez, então, a melhor coisa seria contar a infância não como um filme em que a vida acontece no tempo, uma coisa depois da outra, na ordem certa, sendo essa conexão que lhe dá sentido, meio e fim, mas como um álbum de retratos, cada um completo em si mesmo, cada um contendo o sentido inteiro. Talvez esse seja o jeito de escrever sobre a alma em cuja memória se encontram as coisas eternas, que permanecem...
    
Grande Sertão: Veredas
Guimarães Rosa

TEXTO 2
Eu tinha o medo imediato. E tanta claridade do dia. O arrojo do rio e só aquele estrape*, e o risco d'água, de parte a parte. Alto rio, fechei os olhos. Mas eu tinha até ali agarrado uma esperança. Tinha ouvido dizer que, quando conoa vira, fica boiando, e é bastante a gente se apoiar nela, encostar um dedo que seja, para  se ter tenência, a constância de não afundar, e aí ir seguindo, até sobre se sair no seco. Eu disse isso. E o canoeiro me contradisse: - "Esta é das que afundam inteiras. É canoa de peroba. Canoa de peroba e de pau-de-óleo não sobrenadam..." Me deu tontura. O ódio que eu quis: ah,, tantas canoas no porto, boas canoas boiando, de faveira ou tamboril, de imburana, vinhático ou cedro, e a gente tinha escolhido aquela... Até fosse crime, fabricar dessas, de madeira burra!

                                                                                * instrumento de tortura

História Concisa da Literatura Brasileira
Alfredo Bosi

Diz Alfredo Bosi a respeito de Guimarães Rosas: "'Grande Sertão: Veredas' e as novelas de 'Corpo de Baile' incluem e revitalizam recursos da expressão poética: células rítmicas, aliterações, onomatopeias, rimas internas, ousadias mórficas, elipses, cortes e deslocamentos de sintaxe, vocabulário insólito, arcaico ou de todo neológico, associações raras, metáforas, anáforas, metonímias, fusão de estilos, coralidade."

Atividade:

01.(Texto 1) A) No texto de Guimarães Rosa, como é frequente nos textos do autor, nota-se o emprego de frases de aspecto proverbial. Transcreva uma dessas frases e explique seu sentido. B) Como se pode entender esse recurso, tendo como referência o projeto literário do autor?

02.(Texto 2) De qual dos recursos enumerados Guimarães Rosa faz uso no trecho "Eu disse isso. E o canoeiro me contradisse"? Explique. Codesses recursos pode ser associado a frase "Até fosse crime, fabricar dessas, de madeira burra!"?

03.(Texto 2) Com qual dos recursos mencionados por Alfredo Bosi pode ser associada a frase "Até fosse crime, fabricar dessas, de madeira burra!"?

                                                                          FIM

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Modernismo - Geração de 30: Marco na poesia

     Mestre Drummond
     O maior poeta da segunda geração do Modernismo estreou na literatura em 1930

     Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) é festejado como opoeta maior da segunda geração do Modernismo. atribuía a Itabira, Minas Gerais, cidade natal, seu modo de ser no mundo: "Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro", confessava no poema Confidência do Itabirano.
     Sua estreia em livro foi com Alguma Poesia, de 1930. É dessa obra inaugural alguns de seus poemas mais conhecidos, como Poema de Sete Faces. No Meio do Caminho e Quadrilha. O livro confirma características modernistas já lançadas pelos modernistas da primeira geração, como o uso extensivo do verso livre, a linguagem e o tema prosaicos, a ironia, o humor. E ainda traz uma novidade: o tema do gauchismo.
     O Poema de Sete Faces, que abre Alguma Poesia, fala do "anjo torto", que anuncia a sina do poeta: "Vai, Carlos! ser gauche na vida". Gauche, em francês, significa esquerda. É como se o poeta fosse condenado a jamais se encaixar no mundo, a viver em dissonância com sua sociedade, numa espécie de exílio em sua própria terra. Esse descompasso entre o eu-lírico e a sociedade será tema de numerosos poe-mas de Drummond.
     Estudiosos da obra do poeta mineiro veem, no poema, o próprio anúncio, nas tais faces, das fases da vida do eu-lírico. Assim, a primeira estrofe corresponderia à infância; a segunda e a terceira, à adolescência; e as demais, à maturidade. No poema No Meio do Caminho, de forma ousada e coloquial, pela repetição de uma mesma estrutura, o poeta concretiza, na pedra, impedimentos de seu tempo. Em Quadrilha, o tema do amor é tratado em seu viés do desencontro, numa visão irônica, sem idealismo.
     Drummond é também reconhecido por seu engajamento social, permeado por certa náusea ao mundo, com o reconhecimento das monstruosidades de que o homem é capaz. A Segunda Grande Guerra (1939-1945), principalmente, será catalisadora da emoção poética do poeta itabirano.
     O terceiro livro de Drummond, Sentimento do Mundo, de 1940, revela esse espanto e a disposição solitária ao semelhante. O poema Mãos Dadas, que integra a obra, é mostra dessa disposição, quando o eu-lírico anuncia que sua matéria é "o tempo presente, os homens presentes": "O presente é tão grande, não nos afastemos / Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas".
     Depois do gauchismo e do engajamento social, o poeta adotará postura mais reflexiva, filosófica e metafísica, de que o livro Claro Enigma, de 1951, é o principal testemunho. É uma poesia eminentemente marcada pelo "não".
     Em Confissão, o poeta sintetiza essa negatividade: "Não amei bastante meu semelhante, / não catei o verme nem curei a sarna (...) Não amei bastante sequer a mim mesmo / contudo próximo. / Não amei ninguém".
     Sua última fase é exatamente a da memória, nos anos de 1970 e 1980, em que "rumina" temas da infância. Os livros Boitempo I e II, de 1987, são a representação desse momento de distensão, marcado pela aproximação do fim da vida. O poeta morreria no mesmo ano de 1987.
   
     Modernismo e misticismo
     Na mesma época, Jorge de Lima e Murilo Mendes mergulhavam fundo na religião

Embora Carlos Drummond de Andrade também tenha investigado temas mais metafísicos, os grandes nomes da metafísica e do misticismo da segunda geração dos modernistas brasileiros são os de outros dois poetas do mesmo período: o alagoano Jorge de Lima (1893-1953) e o mineiro Murilo Mendes (1901-1975).
     Jorge e Murilo vincularam-se a uma produção literária de cunho religioso, que defendia uma arte cristã combativa. Mostra desse ímpeto poético é o livro Tempo e Eternidade, de 1935, coproduzido pelos dois.
     Jorge de Lima é reconhecido ainda por sua poesia social, de que Poemas Negros (1937) é o melhor exemplo. Por outro lado, Murilo Mendes também se vinculou a uma poesia de inspiração surrealista, como expressa na obra Visionário, de 1941.

Atividade:

01.Leia o texto:
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei qu no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
(ANDRADE, Carlos Drummond)

No fragmento acima observamos algumas tendências do Modernismo. Assinale a alternativa que não corresponde às características modernistas evidenciadas no poema:
a) a linguagem coloquial e a rejeição do verso perfeito dos parnasianos.
b) o jogo rítmico, refletindo o estado psicológico do movimento.
c) o tom revolucionário, expressivo da preocupação do poeta com o homem e sua problemática político-social
d) a experimentação linguística expressa no verso intencionalmente repetitivo.
e) a visão dinâmica da vida expressa por uma poética de tendência exclusivamente futurista.

02.MÃOS DADAS
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao amanhecer, a paisagem vista da
                janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é minha matéria, o tempo presente, os homens
                presentes,
a vida presente.
(Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do Mundo. 1940)

Considerando o poema "Mãos Dadas", no conjunto da obra a que pertence (Sentimento do Mundo), é correto afirmar que Carlos Drummond de Andrade

a) recusa os princípios formais e temáticos do primeiro Modernismo.
b) tematiza o lugar da poesia num momento histórico caracterizado por graves problemas mundiais.
c) vale-se de temas que valorizam aspectos recalcados da cultura brasileira
d) alinha-se à poética que critica as técnicas do verso livre.
e) relativiza sua adesão à poesia comprometida com os dilemas históricos, pois a arte deve priorizar o tema da união entre os homens.

                                                                       FIM

Modernismo - Geração de 30: Novos Brasis

     Vozes múltiplas
     Depois de uma geração paulista e carioca, o Modernismo se espalha pelo Brasil

     Se, na primeira geração do Modernismo, a que protagoniza a Semana de Arte Moderna de 1922, nota-se a predominância de artistas do eixo São Paulo-Rio, a segunda fase do Modernismo marcará o surgimento de artistas nas mais diversas regiões do Brasil.
     A segunda geração do Modernismo, de 1930 a 1945, revelará, de maneira engajada e crítica, a multiplicidade de faces do próprio Brasil, os Brasis tem, e a existência de problemas que se assemelham em toda parte.
     Na prosa, autores como o alagoano Graciliano Ramos (1892-1953), a cearense Rachel de Queiroz (1910-2003), o paraibano José Lins do Rego (1901-1957), o baiano Jorge Amado (1912-2001) e os gaúchos Érico Veríssimo (1905-1975) e Dyonélio Machado (1895-1985) serão os principais protagonistas do chamado romance de 30. Graciliano, Rachel e Lins do Rego centrarão suas histórias e personagens no sertão nordestino. Retirantes, trabalhadores rurais pobres e a elite rural autoritária ganham complexidade, num tom quase sempre dramático.
     São exemplos dessa perspectiva os romances Vidas Secas (1938) e São Bernardo (1934), de Graciliano Ramos; O Quinze (1930), de Rachel; os romances do ciclo da cana-de-açúcar, centrado nos engenhos nordestinos, como Menino de Engenho (1932) e Fogo Morto (1934), de José Lins do Rego. Jorge Amado combinará engajamento e sensualidade em romances como Cacau (1933), que trata de trabalhadores rurais da região sul baiana; e Capitães da Areia (1936), sobre meninos de rua de Salvador. O gaúcho Érico Veríssimo trabalhará sobre a formação social, econômica e política do Rio Grande do Sul, numa série épica, chamada O Tempo e o Vento, publicada a partir de 1949. Seu conterrâneo Dyonélio Machado, autor do romance Os Ratos (1935), narrerá temas urbanos criticamente, com viés mais psicológico, sobre as sutilezas que acabam por anular o indivíduo.
     A década de 1930 começa com grandes transformações políticas e econômicas. O novo contexto será registrado na obra dos autores. O ciclo da cana-de-açúcar, de José Lins  do Rego, apresenta exatamente o apogeu e a queda do modo de produção dos engenhos tradicionais do Nordeste. Em São Bernardo, de Graciliano Ramos, o choque advém da transformação social do país, com a emancipação crescente da mulher. O fazendeiro Paulo Honório, numa narrativa memorialista, busca entender o porquê de sua história com Madalena, a mulher que tratava como se fora propriedade sua.
     O romance mais popular da segunda geração do Modernismo é Vidas Secas, de Graciliano Ramos, publicado em 1938. Em terceira pessoa, recurso raro no autor, afeito ao discurso em primeira pessoa, o narrador acompanha a saga de uma família de retirantes que foge da seca. Fabiano, sinhá Vitória, o filho mais novo, o filho mais velho e a cadela Baleia são as personagens da narrativa, que combina equilibradamente análise social e psicológica.
     Uma das grandes marcas do romance é o uso extensivo do discurso indireto livre, em que a fala da personagem é incorporada à própria narrativa em  terceira pessoa e forma monólogos interiores. Outro recurso recorrente da obra é o da linguagem antropomórfica e da linguagem zoomórfica. A primeira imprime características humanas a animais. A segunda visa retratar o homem com atributos do animal. Não foi à toa que a cadela Baleia se tornou personagem marcante do romance. Ela é humanizada pela linguagem e pelo discurso indireto livre. Se o animal é humanizado, o homem é animalizado. As personagens do romance são duras, brutas, como reflexo da miséria do meio.

     Tempo de mudanças
     Enquanto os modernistas revolucionavam a literatura, o Brasil se transformava

     * O ano de 1930 marca uma mudança profunda na estrutura de poder com o fim da República Velha.
     * Com o golpe, o gaúcho Getúlio Vargas assume a Presidência e põe fim ao domínio da oligarquia rural paulista e mineira, conhecida como política café com leite.
     * Desde a crise de 1929, com a quebra de valores de Nova York, o café caíra abruptamente de preço, levando o Brasil à profunda crise econômica e enfraquecendo o domínio da oligarquia rural.
     * Revolução de 30 é reflexo da ascensão da burguesia urbana, com o crescimento das cidades. Reflete também o desenvolvimento industrial do país, que será incentivado.
     * Gettúlio fica por 15 anos ininterruptos no poder, até 1945. Volta em 1951 e segue no poder até 1951 e segue no poder até 1954, quando se suicida.

Atividade:

01.Analise as afirmações referentes a Graciliano Ramos:
I. A síntese entre o psicológico e o social característica do escritor só não está presente em Vidas Secas.
II. Em São Bernardo, o protagonista Paulo Honório caracteriza-se pela ambição de dominar não só a terra mas também sua mulher.
III. Em Vidas Secas, o drama de Fabiano e sua família é intensificado pelo monólogo interior.

Para análise das afirmativas, conclui-se que está/estão correta(s) apenas:
a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) II e III.

02.No decênio de 1870, franklin Távora defendeu a tese de que no Brasil havia duas literaturas independentes dentro da mesma língua: uma do Norte e outra do Sul. Por isso, deu aos romances regionais que publicou o título geral de Literatura do Norte. Em nossos dias, um escritos gaúcho, Viana Moog, procurou mostrar com bastante engenho que no Brasil há, em verdade, literaturas setoriais diversas, refletindo as características locais. (Antônio Candido. A Nova Narrativa. São Paulo: Ática, 2003)

Com relação à valorização, no romance regionalista brasileiro, do homem e da paisagem de determinadas regiões nacionais, sabe-se que
a) o romance do Sul do Brasil se caracteriza pela temática essencialmente urbana, colocando em relevo a formação por mei da mescla de características locais e dos aspectos culturais trazidos de fora pela imigração europeia.
b) José de Alencar, representante, sobretudo, do romance urbano, retrata a temática da urbanização das cidades brasileiras e das relações conflituosas entre as raças.
c) o romance do Nordeste caracteriza-se pelo acentuado realismo no uso do vocabulário, pelo temário local, expressando a vida do homem em face da natureza agreste, e assume frequentemente o ponto de vista dos menos favorecidos.
d) a literatura urbana brasileira, da qual um dos expoentes é Machado de Assis, põe em relevo a formação do homem brasileiro, o sincretismo religioso, as raízes africanas e indígenas que caracterizam o nosso povo.
e) Érico Veríssimo, Rachel de Queiroz, Simões Lopes Neto e Jorge Amado são romancistas das décadas de 30 e 40 do século 20, cuja obra retrata a problemática do homem urbano em confronto com a rápido modernização promovida no país pelo Estado Novo.

03.Em sua obra, acentuam os contrastes de requinte e fartura das casas-grandes com a promiscuidade e a miséria das senzalas, a sensualidade desenfreada e a subserviência dos homens do eito. Mas há também o homem e a paisagem. Certamente a observação se concentra na zona açucareira do Nordeste, rica de tradições que datam do século 16, no momento em que se decompõe essa estrutura tradicional por força de uma nova ordem econômica. (Antônio Candido & José Aderaldo Castello. 6ª ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Difel, 1977).
A par do contraste entre casa-grande e senzala, comum a todas as regiões dependentes do trabalho escravo, a zona açucareira do Nordeste viveu também o contraste entre
a) os monarquistas escravocratas e os republicanos abolicionistas, tal como se desenvolve em O Quinze.
b) a força do coronelismo conservador e a dos políticos modernos e arrojados, tal como se narra em São Bernardo.
c) a cultura do homem do litoral, mais aberta, e a do homem do sertão, mais conservadora, tal como surge em Menino de Engenho.
d) o mandonismo das grandes fazendeiros e a ação dos grupos de jagunços, tal como se narra em Grande Sertão: Veredas.
e) o modo de produção arcaico do engenho e o mais moderno da usina, tal como se narra em Fogo Morto.

                                                                            FIM 

Modernismo - Geração de 30: Graciliano Ramos

     Vidas Secas
     Graciliano Ramos

     Deu-se aquilo porque sinhá Vitória não conversou um instante com o menino mais velho. Ele nunca tinha ouvido falar em inferno. Estranhando a linguagem de sinhá Terta, pediu informações. Sinhá Vitória, distraída, aludiu vagamente a certo lugar ruim demais, e como o filho exigisse uma descrição, encolheu os ombros.
     O menino foi à sala interrogar o pai, encontrou-o sentado no chão, com as pernas abertas, desenrolando um meio de sola.
     - Bota o pé aqui.
     A ordem se cumpriu e Fabiano tomou medida da alpercata: deu um traço com a ponta da faca atrás do calcanhar, outro adiante do dedo grande. Riscou em seguida a forma do calçado e bateu palmas:
     - Arreda.
     O pequeno afastou-se um pouco, mas ficou por ali rondando e timidamente arriscou a pergunta. Não obteve resposta, voltou à cozinha, foi pendurar-se à saia da mãe.
     - Como é?
     Sinhá Vitória falou em aspectos quentes e fogueiras.
     - A senhora viu?
     Aí Sinhá Vitória se zangou, achou-o insolente e aplicou-lhe um cocorote.
     O menino saiu indignado com a injustiça, atravessou o terreiro, escondeu-se debaixo das catingueiras murchas, à beira da lagoa vazia.
     A cachorra Baleia acompanhou-o naquela hora difícil. Repousava junto à trempe, cochilando no calor, à espera de um osso. Provavelmente não o receberia, mas acreditava nos ossos, e o torpor que a embalava era doce.
                                                                           (...)
     O pequeno sentou-se, acomodou nas pernas a cabeça da cachorra, pôs-se a contar-lhe baixinho uma história. Tinha um vocabulário quase tão minguado como o do papagaio que morrera no tempo da seca. Valia-se, pois, de exclamações e de gestos, e Baleia respondia com o rabo, com a língua, com movimentos fáceis de entender.
     Todos o abandonavam, a cadelinha era o único vivente que lhe mostrava simpatia. Afagou-a com os dedos magros e sujos, e o animal encolheu-se para sentir bem o contato agradável, experimentou uma sensação como a que lhe dava a cinza do borralho.
                                                                           (...)
     Como não sabia falar direito, o menino balbuciava expressões complicadas, repetia as sílabas, imitava os berros dos animais, o barulho do vento, o som dos galhos que rangiam na catinga, roçando-se. Agora tinha tido a ideia de aprender uma palavra, com certeza importante porque figurava na conversa de sinhá Terra. Ia decorá-la e transmiti-la ao irmão e à cachorra. Baleia permanecia indiferente, mas o irmão se admiraria, invejoso.
     - Inferno, inferno

Atividade:

01.O romance Vidas Secas (1938), de Graciliano Ramos, é uma das obras mais conhecidas da segunda fase do Modernismo brasileiro (1930-1945). Trata-se de obra bem-acabada do romance de 30. Apresente características do movimento, baseado na leitura do texto.

02.Vidas Secas costuma apresentar uma inversão: ora gente se assemelha a bicho, num processo de zoomorfização; ora bicho parece gente, num processo de antromorfização. Com base no trecho apresentado, comente esses dois processos.

03.O episódio acima de Vidas Secas descreve a descoberta, pelo filho mais velho, da palavra "Inferno" e de seu significado. O mistério que envolve essa revelação põe em destaque que tipo de religiosidade do sertanejo nordestino?

                                                                           FIM