segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Romantismo - Segunda geração

     A segunda geração levou o estilo ao limite

     O conjunto de sensações de tédio, incerteza, melancolia e pessimismo que caracterizou o Ultarromantismo ficou conhecido como "mal do século". O grande modelo desse estilo, que frequentemente mergulha na morbidez e até mesmo no satanismo, é o poeta inglês Lord George Gordon Byron, mais conhecido como Lord Byron. Daí as rederências ao byronismo quando se fala na geração dos ultrarromânticos. Com um perfil sintomático das mudanças sociais que servem de pano de fundo ao Romantismo, Byron era de uma família aristocrata em ruínas. Sua vida foi marcada por sobressaltos e contradições, refletidas em sua obra. O poeta morreu aos 36 anos.
     Também curta foi a vida de Álvares de Azevedo, o mais conhecido representante brasileiro dessa fase do Romantismo. Membro da "Sociedade Epicureia", formada por estudantes que levavam uma vida boêmia em São Paulo, o poeta morreu com apenas 21 anos, vítima de tuberculose e de complicações de uma cirurgia. Toda a sua obra teve publicação póstuma.
     Na obra de Álvares de Azevedo, genuíno seguidor de Byron, estão presentes o pessimismo, o desencanto com a vida e a fuga da realidade por meio do sonho. O sentimentalismo revela-se na atmosfera onírica, com a admiração de figuras idealizadas.
     Seus poemas foram reunidos em Lira dos Vinte Anos, em que se mostram, em versos dramáticos, a atração pela morte, a fuga pelo sonho, a ironia diante de símbolos de beleza da poesia de seu tempo, o amor idealizado e a sexualidade reprimida.
     Álvares de Azevedo também escreveu prosa. Noite na Taverna é uma reunião de relatos sobre encontros de estudantes boêmios repletos de morbidez, cinismo e até mesmo de cenas de incesto e assassinato. Nesses textos, fica clara a visão do autor segundo a qual a literatura não devia ocupar-se apenas do belo, ideal e agradável, mas também dos males cotidianos, da doença, das fraquezas humanas e das sensações puramente corpóreas, ainda que de modo idealizado.
     Outro autor importante da geração, Casimiro de Abreu tratou os temas ultrarromânticos de maneira mais ingênua e suave. Seus versos reunidos em As Primaveras, com rimas de fácil memorização, contribuiram para a popularização da arte romântica. Sua vida também curta, interrompida pela tuberculose aos 21 anos, ajuda a explicar  a abordagem de temas ligados à adolescência, como a saudade da infância e da mãe. No final da vida, Casimiro de Abreu também explorou temas como o amor idealizado, a tristeza e a morte.

     Romantismo em Portugal

     Os poetas e prosadores do país dividem-se em três gerações. Conheça os principais autores:
     PRIMEIRA GERAÇÃO - Os autores que possuíam sólida formação neoclássica e introduziram inovações formais modestas abordaram temas ligados à cultura e à história portuguesas.
     a) Almeida Garret (1799-1854): pioneiro do Romantismo português, privilegiou a cultura de seu país. É autor do poema Camões (1825), marco inaugural do Romantismo em Portugal. Escreveu Viagens na Minha Terra (1846), romance de viagem pelo interior de Portugal, com uso de palavras e expressões locais; Folhas Caídas (1853) e Flores sem Fruto (1844), que reúnem os melhores poemas do autor, cheios de lirismo e subjetividade.
     b) Alexandre Herculano (1810-1877): historiador, ambientou romances e contos na Idade Média. É autor de Eurico, o Presbítero (1844), romance sobre o celibato clerical.
     SEGUNDA GERAÇÃO - Pelo aprofundamento das propostas românticas, como a liberdade da imaginação, a visão egocêntrica do mundo, a melancolia e a obsessão com a morte, o período ficou conhecido como Ultrarromantismo, que também influenciou os autores brasileiros.
     a) Camilo Castelo Branco: em cerca de 100 obras, destacando-se a prosa, narra histórias de paixão e tragédia. Amor de Perdição conta a história de Simão e Teresa, jovens apaixonados de famílias inimigas. Os dois morrem no final, além de outra jovem, Mariana, apaixonada por Simão. Em Amor de Salvação, um rico herdeiro, traído e infeliz, se "salva" ao perceber o amor de uma prima.
      TERCEIRA GERAÇÃO - Afastou-se dos excessos do Ultrarromantismo, moderando a dramaticidade das situações e sentimentos.
     a) Júlio Dinis: compõe retratos idealizados das famílias portuguesas, em um mundo onde o mal triunfa sobre o bem. É autor de As Pupilas do Senhor Reitor. Nesse romance, lançado em formato de folhetim, em 1863, Margarida e Clara, orientadas pelo "reitor", ou padre da aldeia, vivem conflitos amorosos. Ao fim, casam-se com seus amados.

LEMBRANÇAS DE MORRER
Álvares de Azevedo

Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpedra demente.

E nem desfolhemna matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto o poento caminheiro...
Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro...

Como o desterro de minh'alma errante,
Onde fogo insensato a consumia,
Só levo uma saudade - é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade - e dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
E de ti, ó minha mãe! pobre coitada
Que por minhas tristezas te definhas!

De meu pai... de meus únicos amigos,
Poucos, - bem poucos! e que não zombavam
Quando, em noites de febre endoidecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.

Se uma lágrima as pálpedras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei!... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!

Ó tu, que à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores...
Se vivi... foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.

Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo...
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu! eu vou amar contigo!

Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz! e escrevam nela:
- Foi poeta, sonhou e amou na vida. -

Sombras do vale, noites da montanha,
Que minh'alma cantou e amava tanto,
Projetei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramei-lhe um canto!

Mas quando preludia ave d'aurora
E quando, à meia-noite, o céu repousa,
Arvoredos do bosque, abri as ramas...
Deixai a lua pratear-me a lousa!
(In Álvares de Azevedo, Lira dos Vinte Anos)

ATIVIDADE

01.O que predominantemente aflora nas duas últimas estrofes do poema ao lado e caracteriza o poeta Álvares de Azevedo como ultrarromântico é (são):
a) a devoção pela noite e por ambientes lúgubres e sombrios.
b) o sentimento de autodestruição da natureza tropical.
c) o acentuado pessimismo e a valorização da religiosidade mística.
d) o sentimento byroniano de tom elegíaco e humorístico-satânico.
e) o sonho adolescente e a supervalorização da vida.

02.Meus oito anos
Oh! que saudades que tenho/Da aurora da minha vida,/Da minha infância querida/Que os anos não trazem mais!/Que amor, que sonhos, que flores,/Naquelas tardes fagueiras/À sombra das bananeiras,/Debaixo dos laranjais!
(Casimiro de Abreu)
O estilo dos versos de Casimiro de Abreu
a) é brando e gracioso, carregado de musicalidade nas redondilhas maiores.
b) traduz-se em linguagem grandiosa, por meio das quais estabelece a crítica social.
c) é preciso e objetivo, deixando em segundo plano o subjetivismo.
d) reproduz o padrão romântico da morbidez e melancolia.
e) é rebuscado e altamente subjetivo, o que o aproxima do estilo de Castro Alves.

                                                 FIM





    

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