domingo, 14 de agosto de 2011

Realismo - Romance: influências

     A ciência toma posse
     A empolgação com o avança científico em várias áreas influencia a literatura

     Na segunda metade do século 19, avanços científicos voltaram a transformar a visão de mundo do ser humano, como ocorrera em outras épocas. Dessa vez, as conquistas do conhecimento em relação à natureza e às relações sociais foram proclamadas como garantias de um futuro melhor para a civilização. Esse cientificismo reforçou o pensamento matarialista. Teorias importantes consolidaram essa visão:
     * O evolucionismo, baseado no princípio da seleção natural, que permite a sobrevivência apenas das espécies e dos indivíduos;
     * O determinismo, segundo o qual o ser humano é resultado quase inevitável da genética, do ambiente e do momento;
     * E o positivismo, que sobrepôs as ciências experimentais à especulação metafísica ou teológica.
     Todas essas tendências apontam para uma visão realista do mundo, em oposição à idealização romântica.
     No meio literário português, o novo clima motivou uma polêmica entre autores românticos e jovens poetas que os consideravam ultrapassados. Foi a Questão Coimbã, assim chamada porque Antero de Quental, representante da Escola Coimbrã, respondeu às críticas dos românticos com um folhetim em que indicou a concepção estética do Realismo. O movimento prosseguiu com a realização das Conferências do Cassino Lisbonense, nas quais foram estudadas as ideias realistas. O Realismo começou efetivamente quando um dos participantes dos eventos, Eça de Queirós, lançou o romance O Crime do Padre Amaro, em 1875.
     Duas características podem resumir a nova atitude:
     * Objetividade, na forma da linguagem neutra e sem rebuscamentos, em acordo com o cientificismo que dominou as áreas do conhecimento.
     * Crítica à sociedade, por meio das novas ferramentas de análise fria e objetiva das relações humanas, sem tolerar a hipocrisia, a ociosidade, a desigualdade e outros problemas identificados no meio burguês e na Igreja Católica.
     Em O Crime do Padre Amaro, Eça de Queirós ataca a hipocrisia no clero. O protagonista contraria os votos religiosos e tem um filho com uma jovem, mas não assume o fato e prefere manter as aparências. A obra pertence à segunda fase do escritor, marcada por romances fortemente naturalistas. O Naturalismo pode ser considerado uma fase mais cientificista e determinista do Realismo, como veremos adiante. A primeira fase de Eça compreende textos ainda com características românticas. Também pertence `segunda fase O Primo Basílio, romance no qual Eça de Queirós critica a burguesia lisboeta pelo moralismo hipócrita, o egoísmo e o adultério.

     O pós-realismo de Eça
     A Cidade e as Serras é o marco de uma nova fase na obra do escritor português

     A terceira fase do grande escritor português caracteriza-se pela concepção com os ideais realistas e pelo retorno a valores como o nacionalismo e a vida pura no campo.
     Em A Cidade e as Serras, Eça de Queirós aborda a temática do campo versus cidade. O narrador-personagem, José Fernandes, é quem conta a história do amigo Jacinto, o protagonista. Jacinto vive na Paris do século 19, então considerada o centro do mundo. Portugal, no entanto, mantinha-se como um país agrário e decadente, em uma época de grande entusiasmo com as teorias positivistas.
     Jacinto elabora uma filosofia de vida:
     "A felicidade dos indivíduos,
     como a das nações, se realiza
     pelo ilimitado desenvolvimento
     da mecânica e da erudição".
     Mas esse entusiasmo de Jacinto por Paris se revela desastroso. Zé Fernandes descreve uma acentuada decadência física do protagonista, de quem se havia separado por sete anos.
     O narrador, então, também se deixa levar por Paris ao ser dominado pela paixão carnal por uma prostituta. O caso contraria as teorias de Jacinto, expostas no começo do livro, segundo as quais o homem se tornava um selvagem no campo. Nesse caso, foi a cidade de Paris que transformou Zé Fernandes num escravo de seus instintos.
     Segue-se uma série de episódios que ilustram o rídiculo que se escondia sob a pretensa superioridade dos pariseenses. Jacinto torna-se entediado, doente. Então, ocorre uma reviravolta: a igreja onde estavam enterrados seus ovós vem abaixo durante uma tormenta. Ele manda que se reconstrua tudo,, sem se importar com os gastos.
     Na viagem de volta a Portugal, Jacinto perde quase a bagagem. Seu país, no entanto, devolve a saúde ao protagonista, que, revigorado, promove diversas melhorias em Tormes. Finalmente, ele se casa com Joaninha, camponesa e prima de Zé Fernandes. Na última cena do livro, Zé Fernandes, também enfastiado de Paris, parte para Tormes - o "castelo da grã-ventura" - com Jacinto e Joaninha.

     Atividade:

01.Considere o enunciado abaixo e as três possibilidades para completá-lo. Em A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós, através das personagens Zé Fernandes e Jacinto de Tormes, que vivem uma vida sofisticada na Paris finissecular, percebe-se
I. uma visão irònica da modernidade e do progresso através de descrições de inventos reais e fictícios.
II. uma consciência dos conflitos que a vida moderna traz ao indivíduo que vive nas grandes cidades.
III. uma mudança progressiva quanto ao modo de valorizar a vida junto à natureza e os benefícios dela decorrentes.
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas I e II.
e) I, II e III.

02.Mais uma vez, considere o enunciado abaixo e leia as três afirmações sugeridas como formas de completá-lo. O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós, é um romance...
1. em que a ironia queirosiana se volta para a burguesia lisboeta e suas mazelas.
2. no qual o autor denuncia a corrupção da Igreja, criticando, assim, a sociedade portuguesa, marcada por um falso catolicismo..
3. cujo painel social abrange todas as classes, denotando, dessa forma, o profundo envolvimento do autor com as tendências socialistas da época.
Quais das propostas apresentadas acima estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas 2.
c) Apenas 3.
d) Apenas 2 e 3.
e) 1, 2 e 3.

03.Das alternativas a seguir, indique a que não condiz com o romance O Primo Basílio, de Eça de Queirós.
a) É uma obra realista-naturalista e nela o narrador aparece como um observador imparcial que vê os acontecimentos com neutralidade.
b) Apresenta como tema central o adultério e o autor explora o erotismo ao detalhar a relação entre os amantes.
c) Mostra-se como uma lente de aumento sobre a intimidade das famílias e revela criticamente a pequena burguesia do final do século 19 em Lisboa.
d) Ataca as instituições sociais como a Família, a Igreja, a Escola e o Estado, sempre com a preocupação de fazer um vasto inquérito da sociedade portuguesa e moralizar os costumes da época.
e) Caracteriza-se por ironia fina, caricaturismo e humor na composição das personagens, entre as quais se destaca o Conselheiro Acácio.

04.Assinale a alternativa incorreta a respeito de Eça de Queirós.
a) Embora tenha militado intensamente na implantação do Realismo em Portugal, não particupou das Conferências do Cassino Lisbonense.
b) Costuma-se dividir sua obra em três fases, sendo a segunda aquela em que desenvolveu um estilo realista implacável.
c) Sua obra é considerada o ponto mais alto da prosa realista portuguesa.
d) Em O Crime de  Padre Amaro, critica a sociedade burguesa de Portugal e mostra a influência do clero na sociedade provinciana.
e) Em O Primo Basílio, temos um romance no qual se denuncia a rede de vícios e de adultérios que infestava Lisboa de então.

                                                                 FIM

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