segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Modernismo - Geração de 45: Guimarães Rosa

Grande Sertão: Veredas
Guimarães Rosa

TEXTO 1
Contar é muito dificultoso. Não pelos anos que já se passaram. Mas pela astúcia que têm certas coisas passadas de fazer balancê, de se remexerem dos lugares. A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos; uns com outros acho que nem se misturam (...) Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo coisas de rasa importância. Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras de recente data. Todas saudade é uma espécie de velhice. Talvez, então, a melhor coisa seria contar a infância não como um filme em que a vida acontece no tempo, uma coisa depois da outra, na ordem certa, sendo essa conexão que lhe dá sentido, meio e fim, mas como um álbum de retratos, cada um completo em si mesmo, cada um contendo o sentido inteiro. Talvez esse seja o jeito de escrever sobre a alma em cuja memória se encontram as coisas eternas, que permanecem...
    
Grande Sertão: Veredas
Guimarães Rosa

TEXTO 2
Eu tinha o medo imediato. E tanta claridade do dia. O arrojo do rio e só aquele estrape*, e o risco d'água, de parte a parte. Alto rio, fechei os olhos. Mas eu tinha até ali agarrado uma esperança. Tinha ouvido dizer que, quando conoa vira, fica boiando, e é bastante a gente se apoiar nela, encostar um dedo que seja, para  se ter tenência, a constância de não afundar, e aí ir seguindo, até sobre se sair no seco. Eu disse isso. E o canoeiro me contradisse: - "Esta é das que afundam inteiras. É canoa de peroba. Canoa de peroba e de pau-de-óleo não sobrenadam..." Me deu tontura. O ódio que eu quis: ah,, tantas canoas no porto, boas canoas boiando, de faveira ou tamboril, de imburana, vinhático ou cedro, e a gente tinha escolhido aquela... Até fosse crime, fabricar dessas, de madeira burra!

                                                                                * instrumento de tortura

História Concisa da Literatura Brasileira
Alfredo Bosi

Diz Alfredo Bosi a respeito de Guimarães Rosas: "'Grande Sertão: Veredas' e as novelas de 'Corpo de Baile' incluem e revitalizam recursos da expressão poética: células rítmicas, aliterações, onomatopeias, rimas internas, ousadias mórficas, elipses, cortes e deslocamentos de sintaxe, vocabulário insólito, arcaico ou de todo neológico, associações raras, metáforas, anáforas, metonímias, fusão de estilos, coralidade."

Atividade:

01.(Texto 1) A) No texto de Guimarães Rosa, como é frequente nos textos do autor, nota-se o emprego de frases de aspecto proverbial. Transcreva uma dessas frases e explique seu sentido. B) Como se pode entender esse recurso, tendo como referência o projeto literário do autor?

02.(Texto 2) De qual dos recursos enumerados Guimarães Rosa faz uso no trecho "Eu disse isso. E o canoeiro me contradisse"? Explique. Codesses recursos pode ser associado a frase "Até fosse crime, fabricar dessas, de madeira burra!"?

03.(Texto 2) Com qual dos recursos mencionados por Alfredo Bosi pode ser associada a frase "Até fosse crime, fabricar dessas, de madeira burra!"?

                                                                          FIM

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