terça-feira, 23 de agosto de 2011

Modernismo - Mário e Oswald

     Nova sensibilidade
     A literatura acompanhou as rápidas mudanças do começo do século 20

     A partir do início do século 20, uma série de transformações profundas vai chacoalhar as estruturas da antiga ordem moral, social e econômica do mundo. O epicentro da mudança é a Europa. Nascia uma nova visão de mundo, que a arte reverberou intensamente.
     A fábrica prometia prosperidade. O automóvel acelerava a vida. As máquinas, de modo geral, assegurariam mais conforto e felicidade. O futuro havia chegado. Era tempo de se livrar de tudo aquilo que tivesse o gosto azedo de passado. As vanguardas artísticas europeias, como o Cubismo, o Dadaísmo e o surrealismo, chegam em busca do novo, do genuíno, de novas abordagens e linguagens, inaugurando uma fase criativamente efervescente, baseada no princípio da experimentação. Abaixo tudo que fosse para tolher a genuína criatividade, acima tudo que libertasse e celebrasse os novos tempos.
     No Brasil, nas primeiras décadas do século 20, as coisas também já mudavam de figura: as cidades ganhavam importância. A burguesia nascente brasileira se fortalecia. As vanguardas modernistas, portanto, encontram um contexto também propício, por aqui. Os escritores Mário de Andrade e Oswald de Andrade se convertem nos principais incentivadores da busca de uma arte brasileira renovada, que assimilasse as mudanças propostas no exterior, mas tivesse forma e conteúdo próprios, conectados com nossas raízes.
     Na Semana de Arte Moderna de 22, realizada no Theatro Municipal de São Paulo, nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro, é o grande marco dessa nova visão e sensibilidade. Mas, afinal, o que queriam esses tais modernistas? Boa parte do público que foi conhecê-los, na Semana de 1922, não gostou nada do que viu.
     Os modernistas defendiam alguns pressupostos para a arte e para a vida. Na literatura, adotaram uma linguagem muito mais coloquial; praticaram o verso livre; elegeram novos temas poéticos, bem prosaicos, do dia a dia; valorizaram e trouxeram a cultura popular para dentro da arte tradicional, refundindo tudo; inauguraram, assim, um novo lirismo.
     O nacionalismo também foi importante para os modernistas. Recuperaram, por exemplo, a linha indianista iniciada com o Romantismo, mas dela subtraem toda idealização. Querem uma volta radical a certas raízes, de que a Antropofagia de Oswald de Andrade foi o melhor exemplo. Absorver o que vem de fora, sim, mas, em seguida, misturá-la com nossas raízes e digeri-la bem, resultando uma arte nacional, a exemplo do que fizeram os índios com o bispo Sardinha - fato transformador em alegoria por Oswald, no Manifesto Antropófago, de 1928.
     Mário de Andrade também abordou o conceito de nacionalismo em sua obra mais famosa, Macunaíma, o Herói sem Nenhum Caráter. Lançado em 1928, o livro apresenta uma variedade de estilos, combinando vocábulos indígenas, africanos, gírias, ditos populares e até a linguagem empolada e complexa dos primórdios do Brasil, como no capítulo da "Carta às Icamiabas." A nacionalidade, aqui, é tratada às avessas. O herói Macunaíma seria a reunião dos defeitos (e de qualidades) do brasileiro; a personagem entrou para a cultura popular por seu bordão: "Ai que preguiça!".

     Canibalismo cultural
     A literatura de Oswald de Andrade se inspirou no caso do bispo devorado por índios

O bispo Sardinha, o religioso português que, dizem, foi devorado pelos índios Caeté, em 1556, se transformou num símbolo da antropofagia cultural defendida por Oswald de Andrade. O ano da morte do religioso seria o primeiro da era antropofágica brasileira, símbolo da digestão das ideias estrangeiras e sua transformação em cultura nacional.
     Leia agora trecho do Manifesto Antropófago, de 1928.
     "Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.
     Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.
     Tupi, or not tupi that is the question.
     Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.
     Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago. (...)
     Queremos a Revolução Caraíba. Maior que a Revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na direção do homem. Sem nós a Europa não teria sequer a sua  pobre declaração dos direitos do homem. (...) (Oswald de Andrade em Piratininga)

Atividade:

01.A presença da temática indígena em Macunaíma, de Mário de Andrade, tanto participa__________ , quanto  representa uma retomada, com novos sentidos, __________.
Mantinha a sequência, os trechos pontilhados serão preenchidos corretamente por
a) do movimento modernista da Antropofagia / do Regionalismo da década de 30.
b) do interesse modernista pela arte primitiva / do indianismo romântico.
c) do movimento modernista da Antropofagia / do Condoreirismo romântico.
d) da vanguarda estética do Naturalismo / do indianismo romântico.
e) do interesse modernista pela arte primitiva / do Regionalismo da década de 30.

02.O Modernismo brasileiro eclodiu com a Semana de Arte Moderna, em 1922. Sobre o movimento, somente podemos afirmar que:
a) os artistas brasileiros queriam formalizar uma grande manifestação para consagrar os ideais clássicos, expressos através do Parnasianismo.
b) a intelectualidade brasileira, de fato, já estava tomando rumos diversos daqueles presentes no século 19, porém a tendência da poesia era a de permanecer melancólica e saudisista.
c) seria um acontecimento de cunho eminentemente nacionalista, sem nenhuma ligação com tendências ou movimentos que não fossem integralmente gerados no Brasil.
d) a Semana ratificaria as premissas do direito à pesquisa estética, disseminada em tantas expressões (literatura, música, pintura, escultura) quantas fossem as dos participantes do movimento.
e) teria como figuras de proa os nomes de Victor Brecheret, Anita Malfatti, Oswald de Andrade e Rui Barbosa.

02.BONDE
O transatlântico mesclado
Dlendiena e esguicha luz
Postretutas e famias sacolejam
(Oswald de Andrade)

Considere as seguintes afirmações:
I. O texto apresenta linguagem concisa e aproveita, poeticamente, variantes linguísticas populares.
II.O texto utiliza a chamada "linguagem cinematográfica" dos modernistas a serviço da criação de cena cotidiana.
III.O uso de neologismo e a regularidade métrica do texto exemplificam tendência estética do início do século 20.
IV.O experimentalismo preconizado pelos poetas da Semana de 22 revela-se, por exemplo, no uso das palavras "postretutas" e "famias", que concretizam, foneticamente, a ideia do "sacolejo".

Assinale:
a) se todas estiverem corretas.
b) se todas estiverem incorretas.
c) se apenas I e II estiverem corretas.
d) se apenas I, II e III estiverem corretas.
e) se apenas I, II e IV estiverem corretas.

03.ERRO DE PORTUGUÊS
Quando o portugês chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de Sol
O índio tinha despido
O português.
(Oswald de Andrade. Poesias Reunidas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.)

O primitivismo observável no poema transcrito acima, de Oswald de Andrade, caracteriza de forma marcante.
a) o regionalismo do Nordeste.
b) o concretismo paulista.
c) a poesia Pau-Brasil.
d) o simbolismo pré-modernista.
e) o tropicalismo baiano.

                                                                    FIM
    

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