quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Modernismo - Geração de 30: Novos Brasis

     Vozes múltiplas
     Depois de uma geração paulista e carioca, o Modernismo se espalha pelo Brasil

     Se, na primeira geração do Modernismo, a que protagoniza a Semana de Arte Moderna de 1922, nota-se a predominância de artistas do eixo São Paulo-Rio, a segunda fase do Modernismo marcará o surgimento de artistas nas mais diversas regiões do Brasil.
     A segunda geração do Modernismo, de 1930 a 1945, revelará, de maneira engajada e crítica, a multiplicidade de faces do próprio Brasil, os Brasis tem, e a existência de problemas que se assemelham em toda parte.
     Na prosa, autores como o alagoano Graciliano Ramos (1892-1953), a cearense Rachel de Queiroz (1910-2003), o paraibano José Lins do Rego (1901-1957), o baiano Jorge Amado (1912-2001) e os gaúchos Érico Veríssimo (1905-1975) e Dyonélio Machado (1895-1985) serão os principais protagonistas do chamado romance de 30. Graciliano, Rachel e Lins do Rego centrarão suas histórias e personagens no sertão nordestino. Retirantes, trabalhadores rurais pobres e a elite rural autoritária ganham complexidade, num tom quase sempre dramático.
     São exemplos dessa perspectiva os romances Vidas Secas (1938) e São Bernardo (1934), de Graciliano Ramos; O Quinze (1930), de Rachel; os romances do ciclo da cana-de-açúcar, centrado nos engenhos nordestinos, como Menino de Engenho (1932) e Fogo Morto (1934), de José Lins do Rego. Jorge Amado combinará engajamento e sensualidade em romances como Cacau (1933), que trata de trabalhadores rurais da região sul baiana; e Capitães da Areia (1936), sobre meninos de rua de Salvador. O gaúcho Érico Veríssimo trabalhará sobre a formação social, econômica e política do Rio Grande do Sul, numa série épica, chamada O Tempo e o Vento, publicada a partir de 1949. Seu conterrâneo Dyonélio Machado, autor do romance Os Ratos (1935), narrerá temas urbanos criticamente, com viés mais psicológico, sobre as sutilezas que acabam por anular o indivíduo.
     A década de 1930 começa com grandes transformações políticas e econômicas. O novo contexto será registrado na obra dos autores. O ciclo da cana-de-açúcar, de José Lins  do Rego, apresenta exatamente o apogeu e a queda do modo de produção dos engenhos tradicionais do Nordeste. Em São Bernardo, de Graciliano Ramos, o choque advém da transformação social do país, com a emancipação crescente da mulher. O fazendeiro Paulo Honório, numa narrativa memorialista, busca entender o porquê de sua história com Madalena, a mulher que tratava como se fora propriedade sua.
     O romance mais popular da segunda geração do Modernismo é Vidas Secas, de Graciliano Ramos, publicado em 1938. Em terceira pessoa, recurso raro no autor, afeito ao discurso em primeira pessoa, o narrador acompanha a saga de uma família de retirantes que foge da seca. Fabiano, sinhá Vitória, o filho mais novo, o filho mais velho e a cadela Baleia são as personagens da narrativa, que combina equilibradamente análise social e psicológica.
     Uma das grandes marcas do romance é o uso extensivo do discurso indireto livre, em que a fala da personagem é incorporada à própria narrativa em  terceira pessoa e forma monólogos interiores. Outro recurso recorrente da obra é o da linguagem antropomórfica e da linguagem zoomórfica. A primeira imprime características humanas a animais. A segunda visa retratar o homem com atributos do animal. Não foi à toa que a cadela Baleia se tornou personagem marcante do romance. Ela é humanizada pela linguagem e pelo discurso indireto livre. Se o animal é humanizado, o homem é animalizado. As personagens do romance são duras, brutas, como reflexo da miséria do meio.

     Tempo de mudanças
     Enquanto os modernistas revolucionavam a literatura, o Brasil se transformava

     * O ano de 1930 marca uma mudança profunda na estrutura de poder com o fim da República Velha.
     * Com o golpe, o gaúcho Getúlio Vargas assume a Presidência e põe fim ao domínio da oligarquia rural paulista e mineira, conhecida como política café com leite.
     * Desde a crise de 1929, com a quebra de valores de Nova York, o café caíra abruptamente de preço, levando o Brasil à profunda crise econômica e enfraquecendo o domínio da oligarquia rural.
     * Revolução de 30 é reflexo da ascensão da burguesia urbana, com o crescimento das cidades. Reflete também o desenvolvimento industrial do país, que será incentivado.
     * Gettúlio fica por 15 anos ininterruptos no poder, até 1945. Volta em 1951 e segue no poder até 1951 e segue no poder até 1954, quando se suicida.

Atividade:

01.Analise as afirmações referentes a Graciliano Ramos:
I. A síntese entre o psicológico e o social característica do escritor só não está presente em Vidas Secas.
II. Em São Bernardo, o protagonista Paulo Honório caracteriza-se pela ambição de dominar não só a terra mas também sua mulher.
III. Em Vidas Secas, o drama de Fabiano e sua família é intensificado pelo monólogo interior.

Para análise das afirmativas, conclui-se que está/estão correta(s) apenas:
a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) II e III.

02.No decênio de 1870, franklin Távora defendeu a tese de que no Brasil havia duas literaturas independentes dentro da mesma língua: uma do Norte e outra do Sul. Por isso, deu aos romances regionais que publicou o título geral de Literatura do Norte. Em nossos dias, um escritos gaúcho, Viana Moog, procurou mostrar com bastante engenho que no Brasil há, em verdade, literaturas setoriais diversas, refletindo as características locais. (Antônio Candido. A Nova Narrativa. São Paulo: Ática, 2003)

Com relação à valorização, no romance regionalista brasileiro, do homem e da paisagem de determinadas regiões nacionais, sabe-se que
a) o romance do Sul do Brasil se caracteriza pela temática essencialmente urbana, colocando em relevo a formação por mei da mescla de características locais e dos aspectos culturais trazidos de fora pela imigração europeia.
b) José de Alencar, representante, sobretudo, do romance urbano, retrata a temática da urbanização das cidades brasileiras e das relações conflituosas entre as raças.
c) o romance do Nordeste caracteriza-se pelo acentuado realismo no uso do vocabulário, pelo temário local, expressando a vida do homem em face da natureza agreste, e assume frequentemente o ponto de vista dos menos favorecidos.
d) a literatura urbana brasileira, da qual um dos expoentes é Machado de Assis, põe em relevo a formação do homem brasileiro, o sincretismo religioso, as raízes africanas e indígenas que caracterizam o nosso povo.
e) Érico Veríssimo, Rachel de Queiroz, Simões Lopes Neto e Jorge Amado são romancistas das décadas de 30 e 40 do século 20, cuja obra retrata a problemática do homem urbano em confronto com a rápido modernização promovida no país pelo Estado Novo.

03.Em sua obra, acentuam os contrastes de requinte e fartura das casas-grandes com a promiscuidade e a miséria das senzalas, a sensualidade desenfreada e a subserviência dos homens do eito. Mas há também o homem e a paisagem. Certamente a observação se concentra na zona açucareira do Nordeste, rica de tradições que datam do século 16, no momento em que se decompõe essa estrutura tradicional por força de uma nova ordem econômica. (Antônio Candido & José Aderaldo Castello. 6ª ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Difel, 1977).
A par do contraste entre casa-grande e senzala, comum a todas as regiões dependentes do trabalho escravo, a zona açucareira do Nordeste viveu também o contraste entre
a) os monarquistas escravocratas e os republicanos abolicionistas, tal como se desenvolve em O Quinze.
b) a força do coronelismo conservador e a dos políticos modernos e arrojados, tal como se narra em São Bernardo.
c) a cultura do homem do litoral, mais aberta, e a do homem do sertão, mais conservadora, tal como surge em Menino de Engenho.
d) o mandonismo das grandes fazendeiros e a ação dos grupos de jagunços, tal como se narra em Grande Sertão: Veredas.
e) o modo de produção arcaico do engenho e o mais moderno da usina, tal como se narra em Fogo Morto.

                                                                            FIM 

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