quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Modernismo - Geração de 30: Marco na poesia

     Mestre Drummond
     O maior poeta da segunda geração do Modernismo estreou na literatura em 1930

     Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) é festejado como opoeta maior da segunda geração do Modernismo. atribuía a Itabira, Minas Gerais, cidade natal, seu modo de ser no mundo: "Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro", confessava no poema Confidência do Itabirano.
     Sua estreia em livro foi com Alguma Poesia, de 1930. É dessa obra inaugural alguns de seus poemas mais conhecidos, como Poema de Sete Faces. No Meio do Caminho e Quadrilha. O livro confirma características modernistas já lançadas pelos modernistas da primeira geração, como o uso extensivo do verso livre, a linguagem e o tema prosaicos, a ironia, o humor. E ainda traz uma novidade: o tema do gauchismo.
     O Poema de Sete Faces, que abre Alguma Poesia, fala do "anjo torto", que anuncia a sina do poeta: "Vai, Carlos! ser gauche na vida". Gauche, em francês, significa esquerda. É como se o poeta fosse condenado a jamais se encaixar no mundo, a viver em dissonância com sua sociedade, numa espécie de exílio em sua própria terra. Esse descompasso entre o eu-lírico e a sociedade será tema de numerosos poe-mas de Drummond.
     Estudiosos da obra do poeta mineiro veem, no poema, o próprio anúncio, nas tais faces, das fases da vida do eu-lírico. Assim, a primeira estrofe corresponderia à infância; a segunda e a terceira, à adolescência; e as demais, à maturidade. No poema No Meio do Caminho, de forma ousada e coloquial, pela repetição de uma mesma estrutura, o poeta concretiza, na pedra, impedimentos de seu tempo. Em Quadrilha, o tema do amor é tratado em seu viés do desencontro, numa visão irônica, sem idealismo.
     Drummond é também reconhecido por seu engajamento social, permeado por certa náusea ao mundo, com o reconhecimento das monstruosidades de que o homem é capaz. A Segunda Grande Guerra (1939-1945), principalmente, será catalisadora da emoção poética do poeta itabirano.
     O terceiro livro de Drummond, Sentimento do Mundo, de 1940, revela esse espanto e a disposição solitária ao semelhante. O poema Mãos Dadas, que integra a obra, é mostra dessa disposição, quando o eu-lírico anuncia que sua matéria é "o tempo presente, os homens presentes": "O presente é tão grande, não nos afastemos / Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas".
     Depois do gauchismo e do engajamento social, o poeta adotará postura mais reflexiva, filosófica e metafísica, de que o livro Claro Enigma, de 1951, é o principal testemunho. É uma poesia eminentemente marcada pelo "não".
     Em Confissão, o poeta sintetiza essa negatividade: "Não amei bastante meu semelhante, / não catei o verme nem curei a sarna (...) Não amei bastante sequer a mim mesmo / contudo próximo. / Não amei ninguém".
     Sua última fase é exatamente a da memória, nos anos de 1970 e 1980, em que "rumina" temas da infância. Os livros Boitempo I e II, de 1987, são a representação desse momento de distensão, marcado pela aproximação do fim da vida. O poeta morreria no mesmo ano de 1987.
   
     Modernismo e misticismo
     Na mesma época, Jorge de Lima e Murilo Mendes mergulhavam fundo na religião

Embora Carlos Drummond de Andrade também tenha investigado temas mais metafísicos, os grandes nomes da metafísica e do misticismo da segunda geração dos modernistas brasileiros são os de outros dois poetas do mesmo período: o alagoano Jorge de Lima (1893-1953) e o mineiro Murilo Mendes (1901-1975).
     Jorge e Murilo vincularam-se a uma produção literária de cunho religioso, que defendia uma arte cristã combativa. Mostra desse ímpeto poético é o livro Tempo e Eternidade, de 1935, coproduzido pelos dois.
     Jorge de Lima é reconhecido ainda por sua poesia social, de que Poemas Negros (1937) é o melhor exemplo. Por outro lado, Murilo Mendes também se vinculou a uma poesia de inspiração surrealista, como expressa na obra Visionário, de 1941.

Atividade:

01.Leia o texto:
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei qu no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
(ANDRADE, Carlos Drummond)

No fragmento acima observamos algumas tendências do Modernismo. Assinale a alternativa que não corresponde às características modernistas evidenciadas no poema:
a) a linguagem coloquial e a rejeição do verso perfeito dos parnasianos.
b) o jogo rítmico, refletindo o estado psicológico do movimento.
c) o tom revolucionário, expressivo da preocupação do poeta com o homem e sua problemática político-social
d) a experimentação linguística expressa no verso intencionalmente repetitivo.
e) a visão dinâmica da vida expressa por uma poética de tendência exclusivamente futurista.

02.MÃOS DADAS
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao amanhecer, a paisagem vista da
                janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é minha matéria, o tempo presente, os homens
                presentes,
a vida presente.
(Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do Mundo. 1940)

Considerando o poema "Mãos Dadas", no conjunto da obra a que pertence (Sentimento do Mundo), é correto afirmar que Carlos Drummond de Andrade

a) recusa os princípios formais e temáticos do primeiro Modernismo.
b) tematiza o lugar da poesia num momento histórico caracterizado por graves problemas mundiais.
c) vale-se de temas que valorizam aspectos recalcados da cultura brasileira
d) alinha-se à poética que critica as técnicas do verso livre.
e) relativiza sua adesão à poesia comprometida com os dilemas históricos, pois a arte deve priorizar o tema da união entre os homens.

                                                                       FIM

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