O descobrimento de novas terras trouxe a literatura ocidental para nosso país
Enquanto a cultura renascentista ampliava os limites do conhecimento humano, as grandes navegações expandiam os horizontes do mundo físico. As conquistas promovidas pelos reis portugueses, no processo de colonização, tinham duplo objetivo. Um era conquistar terras e apoderar-se de suas riquezas, subjugando os povos nativos. Outro era disseminar a doutrina católica e a influência da Igreja catequizando os nativos, chamados de pagãos por não terem sido batizados.
É nesse momento que surge a primeira manifestação literária da história brasileira: a Carta a El-Rei Dom Manuel sobre o Achamento do Brasil, de ero Vaz de Caminha, escrivão da esquadra de Pedro Álvares Cabral em 1500, ano oficial do descobrimento do . Muitos não consideram a carta um exemplo de literatura brasileira propriamente dita, mas apenas literatura escrita no Brasil por um português.
De qualquer modo, a obra é um dos melhores exemplos da literatura de informação, constituída de relatos de viagens e tratads sobre a nova terra escritos por europeus. A finalidade da Carta era informar a metrópole sobre as viagens e os contatos com o território e os nativos, mas Caminha tinha pretenções literárias ao descrever algumas cenas de modo comparativo e metafórico.
Outras produções importantes da literatura informativa no Brasil colônia do século 16 são: Diário de Navegação, de Pero Lopes de Sousa; Tratado da Terra do Brasil e História da Província de Santa Cruz, a que Vulgarmente chamamos Brasil, de Pero de Magalhães Gândavo; Tratado da Terra e Gente do Brasil, de Fernão Cardim; Tratado Descritivo do Brasil, de Gabriel Soares de Sousa; Diálogos das Grandezas do Brasil, de Ambrósio Fernandes Brandão; Duas Viagens ao Brasil, de Hans Staden; e Viagem à Terra do Brasil, de Jean de Léry.
Ao lado dessa literatura essencialmente descritiva, desenvolveu-se a de catequese, de autoria dos jesuítas que vieram para o Brasil com a missão de doutrinar os índios na fé católica. A fim de converter os "selvagens" locais, os jesuítas escreveram cartas, tratados descritivos, crônicas, poemas, hinos e peças teatrais. Destaca-se a produção dos padres Manuel da Nóbrega, Fernão Cardim e, principalmente, José de Anchieta.
Hábil no uso da literatura para a catequização, Anchieta escreveu vários tipos de textos, entre eles poemas, uma gramática da língua tupi e peças teatrais. A exemplo dos autos medievais de Gil Vicente, o teatro de Anchieta promove o respeito aos valores morais cristãos como caminha para a salvação.
Contatos imediatos
Leias os textos abaixo de Pero Vaz de Caminha e José de Anchieta sobre o Brasil
1. "Esta terra, Senhor, me parece que ela da ponta que mais contra o sul vimos até outra ponta contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas de costa. Tem, ao longo do mar, nalgumas partes, grandes barreiras, delas vermelhas, delas brancas; e a terra por cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta, é tudo praia-palma, muito chã e muito formosa.
Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. Porém o melhor fruito, que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza el ela deve lançar.
A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, benfeitos. Andam nus, sem coberta alguma. Não fazem o menor caso de encobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto.
Parece-me gente de tal inocência que, se homem os entendesse e ele a nós, seriam logo cristãos, porque eles, segundo parece, não têm, nem entendem em nenhuma crença.
Eles não lavram, nem criam. Não há aqui boi, nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha,nem qualquer outra alimária, que costumada seja ao viver dos homens. Nem comem senão desse inhame, que aqui há muito, e dessa semente e fruitos, que a terra e as árvores de si lançam. E com isto andam tais e tão rijos e tão nédios que o não somos nós tanto, com quanto trigo e legumes comemos.
E nesta maneira, Senhor, dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta terra vi. E, se algum pouco me alongei, Ela me perdoe, pois o desejo que tinha de tudo vos dizer, mo fez pôe assim pelo miúdo."
A Carta de Pero Vaz de Caminha, de Pero Vaz de Caminha, 1943
2. "Por aqui se vê que os maiores impedimentos nascem dos Portugueses, e o primeiro é não haver neles zelo de salvação dos índios (...) e com isso pouco se lhes dá aos senhores que têm escravos, que não ouçam missa, nem se confessam, e estejam amancebados. E, se o fazem, é pelos contínuos brados da Companhia, e logo se enxerga claro nos tementes a Deus que seus escravos vivem diferentemente pelo particular cuidado que têm deles."
José de Anchieta, 1584
Atividade:
01.A partir da leitura dos trechos de Pero Vaz de Caminha, julgue os itens a seguir.
I. Diferentemente de outros documentos do século 16 acerca da descoberta do Brasil, hoje esquecidos, a carta de Pero Vaz de Caminha continua a ser lida devido à sua importância histórica e, também, por conter elementos da função poética da linguagem.
II. A carta de Pero Vaz de Caminha é considerada pela história brasileira o primeiro documento publicitário oficial do país.
III. A carta de Caminha é um texto essencialmente descritivo.
IV. Pero Vaz de Caminha foi o único português a enviar notícias da descoberta do Brasil ao rei de Portugal.
V. Segundo Caminha, os habitantes da Ilha de Vera Cruz eram desaverganhodos.
São verdadeiros os itens:
a) I, II e V.
b) II e III.
c) I e III.
d) I e IV.
e) II, III e V.
02.O padre José de Anchieta escreveu sobre as dificuldades de conversão dos índios ao cristianismo. Pela leitura do trecho, é correto afirmar que o jesuíta:
a) entendia que a escravidão não poderia se tornar um obstáculo à colonização do gentio.
b) opunha-se à escravização dos índios por julgá-la contrária aos princípios do cristianismo.
c) considerava os costumes tradicionais indígenas adequados aos mandamentos cristãos.
d) julgava os indígenas ociosos e inaptos para o trabalho na grande empresa agrícola.
e) advogava a sujeição dos índios aos portugueses como meio para facilitar a sua conversão.
FIM
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