quinta-feira, 14 de julho de 2011

Barroco - Gregório de Matos

     Portugueses que viviam no Brasil deram impulso à literatura nacional

     No Brasil so século 17, as escolas ainda se limitavam à educação religiosa, e a literatura ainda refletia diretamente as tendências da metrópole. Os próprios autores, às vezes, não podem ser designados definitivamente brasileiros ou portugueses. Padre Antônio Vieira, por exemplo, é considerado um escritor português por sua nacionalidade, mas passou grande parte de sua vida no Brasil e contribuiu decisivamente para a formação da literatura brasileira.
     Mesmo quem nascia no Brasil estudava em Portugal. Foi o caso de Gregório de Matos, nascido em Salvador e formado em Direito em Coimbra. Depois de se tornar juiz e ficar viúvo, voltou ao Brasil, para trabalhar na Bahia. Mas não foi a magistratura que lhe rendeu fama,, e sim a poesia. Dono de um espírito multifacetado, com grande talento para o lirismo, a religiosidade e também a sátira, Gregório de de Matos ficou conhecido pela irreverência e pelo ataque impiedoso aos costumes dos colonizadores, cléricos, governantes, nobres e mestiços. Sua produção inclui poemas líricos e religiosos de alta qualidade, refletindo as contradições e os excessos da arte barroca, mas foi a língua ferina que o celebrizou, rendendo-lhe o apelido de "Boca do Inferno".
     Na poesia lírica, Gregório segue a tendência cultista e expressa vários  sentimentos por meio de figuras de linguagem como antíteses e metáforas. Temas como a passagem do tempo, a brevidade da vida e a paixão pela mulher encantadora também são tratados de modo dramático em seus sonetos. Os elementos sensoriais têm grande importância na manifestação do eu-lírico: "Pois não me chegam a vir à boca os tiros / Dos combates, que vão dentro no peito", diz um poeta dos poemas na página à esquerda. O poeta usa a imagem de uma batalha para se referir aos sentimentos que guarda, mas não consegue expressar com palavras.
     A poesia religioso ou sacra de Gregório revela um artista abalado pelo conflito entre o mundo material e o espiritual, o pecado e a salvação. Um dos melhores exemplos é o soneto A Jesus Cristo Nosso Senhor.
     Ao mesmo tempo, o autor foi capaz de cultivar a sátira impiedosa e cruel contra instituições, autoridades e colonos gananciosos. A sociedade do Brasil colônia, que crescia sem princípios éticos sólidos e com base no enriquecimento acima de qualque outro objetivo, era fértil para a crítica mordaz do habilidoso poeta. No Juízo Anatômico da Bahia, Gregório faz uma enorme lista de virtudes ausentes na sociedade baiana.
     A defesa de Antônio Vieira do território brasileiro contra invasores estrangeiros, de um lado, e a preocupação de Gregório de Matos com o comportamento social, de outro, ilustram um fator novo surgido na literatura barroca da colônia: o nativismo, denotando um sentimento de apego e amor à terra.
     Outro nome do Barroco no Brasil é Bento Teixeira, autor de Prosopopeia, considerado o marco inaugural do período na colônia. É uma tentativa de poema épico inspirado em Os Lusíadas que narra os efeitos de Albuquerque Coelho, donatário da capitania de Pernanbuco.


     Lendo o passado
     Gregório de Matos

     "Numa suave região cortada por rios límpidos, de céu sempre azul, terra férteis, florestas frondosas, a cidade parecia ser a imagem do Paraíso. Era, no entanto, onde os demônios aliciavam almas para povoarem o inferno."
     ""Esta cidade acabou-se', pensou Gregório de Matos, olhando pela janela do sobrado no terreiro de Jesus. "Não é mais a Bahia. Antigamente havia muito respeito. Hoje, até dentro da praça, nas barbas da infantaria, nas bochechas dos granachas, fazem assaltos à vista.""
Os dois trechos acima são de Boca do Inferno, romance de Ana Mirando, publicado em 1989. As passagens ilustram dois aspectos marcantes do período Barroco. A primeira lembra a contradição entre o bem eo mal, o Paraíso e o inferno, típica do dualismo na arte do período. A segunda é uma citação direta do poeta Gregório de Matos e de suas críticas aos males da sociedade, como a currupçãp.
                                                                                                        (Romance de 1989 retrata a Bahia)


Leia trechos de três poemas de Gregório de Matos

1 - A Jesus Cristo Nosso
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa piedade me despido,
Porque quanto mais tenho delinguido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto em pecado,
A abrandar-nos sobeja um só gemido,
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida, e já cobrada
Glória tal, e prazer tão repentino
vos deu, como afirmais na Sacra História:
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada
Cobrai-a, e não queirais, Pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.

2 - Admirável Expressão que faz o Poeta de seu Silêncio
Largo em sentir, em respirar sucinto
Peno, e calo tão fino, e tão atento,
Que fazendo disfarce do tormento
Mostro, que o não padeço, e sei, que o sinto.
O mal, que fora encubro, ou que desminto,
Dentro no coração é, que o sustento,
Com que para penar é sentimento,
Para não se entender é labirinto.
Ninguém sufoca a voz nos seus retiros;
Da tempestade é o estrondo efeito (...)
Mas oh do meu segredo alto conceito!
Pois não me chegam a vir à boca os tiros
Dos combates, que vão dentro no peito

3 - Juízo Anatômico da Bahia
Que falta nesta cidade? - Verdade.
Que mais por sua desonra? - Honra.
Falta mais que se lhe ponha? - Vergonha.
O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, verganha.(...)

Atividade:
01.Leia o soneto Admirável Expressão. Considere as seguintes afirmações:
I. O poema é um exemplo da poesia satírica de Gregório de Matos, a qual lhe valeu a alcunha de Boca do Inferno, por escarnecer de pessoas, situações e costumes de seu tempo.
II.Na segunda estrofe, o poema expressa a oposição entre essência e aparência, sustentando que o sofrimento é ocultado aos olhos do mundo.
III.Segundo as duas últimas estrofes do poema, a opção pelo silêncio com relação à dor e às angústias internas contrapõe-se aos ruídos da natureza.
Quais as corretas:
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas I e II.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.

02.Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as afirmações abaixo sobre os dois grandes nomes do barroco brasileiro.
(     ) A obra poética de Gregóriode Matos oscila entre os valores transcendentais e os valores mundanos, exemplificando as tenções do seu tempo.
(     ) Os sermões do Padre Vieira caracterizam-se por uma construção de imagens desdobradas em numerosos exemplos que visam a enfatizar o conteúdo da pregação.
(     ) Gregório de Matos e o Padre Vieira, em seus poemas e sermões, mostram exacerbados sentimentos patrióticos expressos em linguagem barroca.
(     ) A produção satírica de Gregório de Matos e o tom dos sermões do Padre Vieira representam duas faces da alma barroca no Brasil.
(     ) O poeta e o pregador alertam os contemporâneos para o desvio operado pela retórica retumbante e vazia.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é:
a) V, F,  F, F, F.
b) V, V, V, V, F.
c) V, V, F, V, F.
d) F, F, V, V, V.
e) F, F, F, V, V.

                                             FIM    

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