O Século das luzes valorizou a vida no campo
Se o Classicismo alorizava a perfeição formal, inspirada na compreensão racional do mundo, o Barroco mergulhava na assimetria e no exagero, dividindo entre fé e razão, matéria e espírito. Agora, em contraposição aos dilemas e excessos da linguagem do período barroco, surge mais uma vez um movimento em busca da simplicidade perdida. Trata-se do Arcadismo, que floresceu no fim do século 17 e se estendeu pelo século 18.
Estamos falando do Século das Luzes, assim chamado por ter testemunhado o Iluminismo, movimento filosófico para o qual a felicidade só seria atingida com o progresso da civilização, apoiada pelo exercício da razão e pela liberdade de Pensamento. A burguesia, com crescente poder econômico, ganhou condições de se impor politicamente à nobreza. Abriu-se o caminho para a Revolução Francesa, de 1789.
A nova situação favoreceu o surgimento de uma arte que, embora assimilasse o espírito crítico impulsionado pelos iluministas, exprimia-se em um contexto de racionalidade e simplicidade. O termo "arcadismo" vem de Arcádia, região que, na mitologia grega, era habitada por pastores que cultivavam a música e a poesia, valorizando a simplicidade da vida no campo. Inspiradas no , surgiram associações batizadas de Arcádias ou de Academias.
Os excessos e desequilíbrios do Barroco foram substituídos pelas seguintes características: simplicidade da forma, uso moderado de figuras de linguagem e vocabulário rebuscado, racionalidade e recuparação das referências advindas da mitologia cláscica. Esses aspectos permitem que o Arcadismo seja sinônomo de Neoclassicismo. Eles se aplicam também aos assuntos abordados pelos poetas árcades, que buscaram lemas da Antiguidade para resumir seus ideais. Em latim, essas expressões resumem o conteúdo temático do movimento: carpe diem - aproveitar (colher) o dia; inutilia truncat - eliminar o inútil; aurea mediocritas - expressão do poeta romano Horácio, significando que uma condição mediana garante a tranquilidade; locus amoenus - local tranquilo (ameno); fugere urbem - fugir do centro urbano.
O Arcadismo começa no Brasil com o lançamento das Obras, do poeta mineiro Cláudio Manuel da Costa. Admirador de Camões, o escritos deu preferência ao soneto lírico-amoroso. Seu estilo se mantinha bastante próximo ao Barraco, com o emprego intenso de figuras de linguagem e rebuscamentos condenados por outros árcades. Estudante de Direito em Portugal, teve contato com os iluministas e, de volta ao Brasil, participou da inconfidência Mineira. Foi preso e encontrado morto (enforcado) em sua cela. Pela versão oficial, Cláudio Manuel da Costa teria cometido suicídio.
O outro grande autor do Arcadismo brasileiro é Tomás Antônio Gonzaga, que liderou a "Escola Mineira" ao lado de Cláudio Manuel da Costa. Os melhores exemplos de sua poesia lírica são as Liras, assinadas por seu pseudônimo árcade Dirceu, conhecidas por Marília de Dirceu, que caracterizam o eu-lírico como um pastor que declara seu amor a Marília. Gonzaga escreveu o poema em duas fases distintas da vida. Por isso, na primeira parte, ele manifesta a esperança de uma vida feliz ao lado da amada; na segunda, fala do cenário opressivo da masmorra depois de condenado ao degredo na África pela participação na Inconfidência Mineiro. O lado inconfidente de Gonzaga foi registrado na obra Cartas Chilenas.
As faces de Bocage
Ele foi árcade, irreverente e pré-romântico
Em Portugal, o nome mais conhecido do Arcadismo, Manuel Maria Barbosa du Bocage, é o poeta que mais notoriamente se afastou da temática do movimento. Ele ficou célebre pela poesia satírica, mordaz e às vezes extremamente erotizada (pornográfica, segundo alguns críticos). Sua lírica conservou o bucolismo e, nos sonetos, o equilibrio formal. Mas o subjetivismo e a luta entre razão e sentimento o transformam em um pré-romântico.
Observe o soneto:
Sobre estas duras, cavernosas fragas,
Que o marinho furor vai carcamendo,
Me estão negras paixões n'alma fervendo
Como fervem no pego as crespas vagas:
Razão feroz, o coração me indagas,
De meus erros a sombra esclarecendo,
E vás nele (ai de mim!) palpando e vendo
De agudas ânsias venenosas chagas:
Cego aos meus males, surdo ao teu reclamo,
Mil objetos de horror co'a idéia eu corro,
Solto gemidos, lágrimas derramo:
Razão, de que me serve o teu socorro?
Mandas-me não amar, eu ardo, eu amo;
Dizes-me que sossegue, eu peno, eu morro.
Bocage, Soneto, in Poesia no Metrô
Atividade:
01.Leia o soneto de Cláudio Manuel da Costa que se inicia com o verso "Pastores, que levais ao monte o gado". Todas as alternativas contêm afirmações corretas sobre esse soneto, exceto:
a) O poema opõe um estilo de vida simples a um estilo de vida dissimulado.
b) A palavra "guerra" enfatiza a recusa da pastora a corresponder aos afetos do poeta.
c) O sentido da visão é o predominante em todas as estrofes do poema.
d) A expressão "para dar contágio a toda a terra" revela a intensidade do sofrimento do pastor.
02.Leia o soneto de Cláudio Manuel da Costa que se inicia com o verso "Torno a ver-nos, ó montes: o destino". Considerando o soneto e os elementos constitutivos do Arcadismo brasileiro, assinale a opção correta acerca da relação entre o poema e o momento histórico de sua produção.
a) Os "montes" e "outeiros", mencionados na primeira estrofe, são imagens relacionadas à Metrópole, ou seja, ao lugar onde o poeta se vestiu com traje "rico e fino".
b) A posição entre a Colônia e a Metrópole, como núcleo do poema, revela uma contradição vivenciada pelo poeta, dividido entre a civilidade do mundo urbano da Metrópole e a rusticidade da terra da Colônia.
c) O bucolismo presente nas imagens do poema é elemento estético do Arcadismo que evidencia a preocupação do poeta árcade em realizar uma representação literária realista da vida nacional.
d) A relação de vantagem da "choupana" sobre a "Cidade", na terceira estrofe é formulação literária que reproduz a condição histórica paradoxalmente vantajosa da Colônia sobre a Metrópole.
e) A realidade de atraso social, político e econômico do Brasil Colônia está representada esteticamente no poema pela referência, na última estrofe, à transformação do pranto em alegria.
03.Assinale a alternativa correta em relação a "Marília de Dirceu", de Tomás Antônio Ganzaga.
a) No livro, é estabelecido um contraste entre a paisagem, bucólica e amena, e o cenário da masmorra, opressivo e triste.
b) Trata-se de um conjunto de cartas de amor, enviadas por Marília, de Minas Gerais, a Dirceu, que se encontra em Moçambique.
c) Na obra, o pensamento racional é anulado em favor do sentimentalismo romântico.
d) Nas liras de Gonzaga, Marília é uma mulher irreal, incorpórea, imaginada pelo pastor Dirceu.
e) Trata-se de um livro satírico, carregado de termos pejorativos em relação às convenções da época.
04.(adaptado)
"Além do horizonte, deve ter
Algum lugar bonito para viver em paz
Onde eu possa encontrar a natureza
alegria e felicidade com certeza.
Lá nesse lugar o amanhecer é lindo
com flores festejando mais um dia que vem vindo
Onde a gente possa se deitar no campo
Se amar na relva, estutando o canto das pássaros".
Roberto e Erasmo Carlos estão falando de um lugar ideal, de um ambiente campestre, calma. Em literatura, um grupo de escritores, no século 18, defendeu o bucolismo, a necessidade de valorização da vida simples, em contato com a natureza. Estamos fazendo referência aos escritores do:
a) Romantismo.
b) Arcadismo.
c) Realismo.
d) Barroco.
d) Simbolismo.
FIM
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